Laura Enchioglo   |   25/07/2025 17:28

Tarifaço dos EUA pode afetar consumidores e produtores dos dois países, diz advogado

Especialista avalia que medida anunciada por Trump atinge a população e ameaça o equilíbrio das relações


Divulgação
Daniel Toledo é advogado da Toledo e Advogados Associados especializado em Direito Internacional
Daniel Toledo é advogado da Toledo e Advogados Associados especializado em Direito Internacional

A uma semana da entrada em vigor do chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, o cenário é de incerteza e impacto direto nas relações comerciais entre os dois países. A decisão foi articulada pelo ex-presidente Donald Trump e prevê uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA.

O advogado Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional e fundador do escritório Toledo e Associados, considera que a medida não tem amparo técnico e tampouco representa uma política de reciprocidade real.

“Se fosse para falar em reciprocidade, essa tarifa deveria ser negativa. A balança comercial é mais favorável aos Estados Unidos do que ao Brasil. Eles vendem mais para nós do que compram de nós”

Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional

Café, aço e carne: setores mais expostos

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os principais produtos exportados do Brasil para os EUA são derivados de minério de ferro, café em grão, celulose, alumínio e carnes.

Com a nova tarifa, a competitividade desses produtos tende a cair abruptamente no mercado americano, o que pode forçar os produtores a redirecionarem sua produção para outros mercados, ou aceitarem perdas expressivas de margem.

Mas o advogado destaca um ponto fundamental, a tarifa de 50% será paga pelo consumidor americano, e não pelo produtor brasileiro.

“Quem paga essa conta é o importador. Se um produto custa US$ 1, ele vai entrar nos EUA por US$ 1,50. Esse valor adicional é uma tarifa que vai direto para o governo americano, mas sai do bolso do cidadão americano”

Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional

Toledo avalia que a medida tende a fragilizar não apenas o comércio bilateral, mas a posição dos Estados Unidos na geopolítica global. “Ao adotar uma postura agressiva e isolacionista, os EUA correm o risco de afastar parceiros comerciais. Outros países vão começar a comprar do Brasil aquilo que os americanos rejeitarem por conta da tarifa. E, mais à frente, quando os EUA quiserem retomar essas compras, talvez o preço seja outro, e bem mais alto.”

O advogado destaca ainda que o setor industrial norte-americano pode ser duramente atingido. “Produtos como aço e alumínio são essenciais para a cadeia produtiva local. O país ainda precisa importar cerca de 40% do cobre que consome, por exemplo. Ao taxar esses insumos, o próprio governo encarece sua indústria, fragiliza sua competitividade e compromete o poder de compra da população”, destaca.

Efeitos colaterais para o Brasil

Raúl Nájera/Unsplash
Setor industrial norte-americano pode ser duramente atingido
Setor industrial norte-americano pode ser duramente atingido

Do lado brasileiro, os efeitos do tarifaço também devem se fazer sentir no médio e longo prazo. Com a queda das exportações, é possível que haja excedente de oferta interna para produtos como café, o que pode momentaneamente reduzir o preço ao consumidor nacional. No entanto, Toledo alerta:

“Se o produtor não enxergar mais viabilidade econômica para exportar, ele vai migrar para outras culturas ou reduzir produção. Isso pode gerar escassez e, posteriormente, elevar os preços novamente”

Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional

Além disso, o especialista destaca que a medida pode enfraquecer produtores que já operam com margens apertadas. “O agronegócio, que é o motor da nossa balança comercial, pode ser afetado com força. Isso impacta renda, emprego e até investimento em inovação e tecnologia no campo”.

Embora Trump tenha utilizado justificativas comerciais para impor a tarifa, o pano de fundo tem sido interpretado como uma retaliação velada ao Brasil, em meio a divergências políticas e judiciais recentes. Para Daniel Toledo, no entanto, a população é quem acaba arcando com o preço do embate. “Essas sanções não atingem um ministro, não atingem um juiz. Elas atingem a economia real, as empresas, os trabalhadores. Quem paga a conta é a sociedade”.

Toledo ainda lembra que medidas como essa causam efeito dominó em outras economias e podem gerar uma reconfiguração nas alianças comerciais globais. “Já vimos outros países ignorarem a pressão dos EUA e buscarem novos parceiros. É o que pode acontecer agora. O mundo de hoje funciona com diplomacia e negociação, não com sanções unilaterais”, conclui.

Quer receber notícias como essa, além das mais lidas da semana e a Revista PANROTAS gratuitamente?
Entre em nosso grupo de WhatsApp.

Tópicos relacionados