Artur Luiz Andrade   |   29/09/2025 14:54
Atualizada em 29/09/2025 14:57

WTTC tem uma boa e uma má notícia para os empregos em Viagens e Turismo; leia aqui

Estudo lançado em Roma mostra que Turismo vai criar 91 milhões de empregos em 10 anos... mas falta gente

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
Gloria Guevara AhmedAl-Khateeb, ministro de Turismo da Arábia Saudita, e Sarah Meaney, do Coraggio Group, ambos patrocinadores do estudo
Gloria Guevara AhmedAl-Khateeb, ministro de Turismo da Arábia Saudita, e Sarah Meaney, do Coraggio Group, ambos patrocinadores do estudo

ROMA – Depois de perder 70 milhões de empregos por causa da pandemia, a indústria de Viagens e Turismo superou os níveis de empregabilidade de antes da emergência sanitária e a previsão para os próximos dez anos é de que 1 em cada 3 novos empregos criados venha do Turismo. Proporção essa que até agora era de 1 para 4. Em 2024, o setor gerou um recorde de 357 milhões de empregos no mundo todo, e estima-se que este ano gerará 371 milhões.

Serão criados no Turismo 91 milhões de novos empregos em dez anos, mas o desafio será preencher essas vagas.

A má notícia vem daí: dessas novas vagas, criadas para suprir as necessidades trazidas pelo crescimento da indústria, 43 milhões, quase metade delas, terão dificuldades para serem preenchidas – pode haver falta de pessoas e de interesse nessas vagas. Na Hospitalidade, o gap será de 8,6 milhões (18% abaixo dos níveis requeridos pelo mercado). Nas posições de entrada ou que requerem poucas habilidades, serão 20 milhões.

O gap significará 16% da força de trabalho total dessa indústria. Em resumo, se empresas e governos não tomarem ações agora haverá escassez para o preenchimento de 43 milhões de vagas.

O relatório O Futuro do Trabalho em Viagens e Turismo, do WTTC, lançado hoje, em Roma, observa que o desafio trabalhista afetará todas as 20 economias analisadas, com os maiores déficits em termos absolutos previstos para China (16,9 milhões), Índia (11 milhões) e União Europeia (6,4 milhões).

Em termos relativos, o setor de Viagens e Turismo no Japão deverá ter uma oferta de mão de obra 29% abaixo da demanda esperada até 2035, seguido pela Grécia (27%) e Alemanha (26%). Veja aposição do Brasil no gráfico abaixo.


Parte do estudo do WTTC sobre o Futuro do Emprego em Viagens e Turismo
Parte do estudo do WTTC sobre o Futuro do Emprego em Viagens e Turismo

Como resolver essa equação?

A CEO interina do WTTC, Gloria Guevara, disse que essa questão só será resolvida com todos os envolvidos unidos. “O setor privado não pode resolver isso sozinho. O setor público e todos os players precisarão estar juntos nessa missão”, disse ela, ao apresentar o estudo no segundo dia do Global Summit do WTTC, em Roma.

Alguns gargalos têm solução, mas não as mais fáceis:

1 – É preciso convencer os jovens de que um trabalho de entrada não significa uma carreira definida e que seus pais, chefes, tios e líderes provavelmente começaram sua jornada servindo mesas, auxiliando escritórios ou carregando malas em hotéis.

O primeiro emprego é tão digno quanto qualquer outro e pode levar a outras indústrias e carreiras. O Turismo, para trabalhos de entrada, é muito bom, pois tem diversas posições que requerem poucas habilidades.

“Essa geração precisa entender isso e também que vai continuar estudando, se formar e trabalhar com o que deseja. Mas um emprego de entrada é algo comum nas gerações passadas”, explica o estudo. É preciso contar essas histórias, para inspirar os novos profissionais e também destacar a diversidade e o entusiasmo pelas oportunidades de carreira em Viagens e Turismo.

Parte do estudo do WTTC sobre o Futuro do Emprego em Viagens e Turismo
Parte do estudo do WTTC sobre o Futuro do Emprego em Viagens e Turismo

2 – O segundo ponto, que é um desafio para a indústria, é oferecer a quem começa no Turismo uma carreira e não apenas um emprego. Diversos líderes que subiram ao palco do WTTC Global Summit abordaram o tema. Por muitos anos, Viagens e Turismo não seduziu mentes brilhantes com planos de carreira. Com a pandemia, muitos jovens acharam o brilho no olhar em outras indústrias.

3 – Temos, então, o terceiro desafio: resgatar quem saiu da indústria durante a pandemia e não voltou. Com melhores salários, com benefícios e o plano de carreira citado anteriormente.

4 – A nova geração pode ser atraída também com as empresas mostrando seus valores, sua cultura, preocupação com o meio ambiente e habilidade de escutar esses novos talentos. A nova geração quer se identificar com a empresa onde trabalha.

5 – As empresas precisam investir em qualificação, educação e em reter os talentos. Para manter seus melhores funcionários, precisarão lançar mão de programas de liderança e de transparência nos processos de promoção.

6 – A tecnologia precisará ser uma aliada para ajudar os colaboradores e aumentar a produtividade. Ferramentas inovadoras e plataformas digitais de treinamento são bons exemplos.

7 – Outra solução é aumentar a mobilidade do trabalho, dentro e fora das fronteiras do país.

8 – Fortalecer a colaboração e o alinhamento entre o setor educacional e a indústria para que o treinamento atenda às necessidades dos empregadores e proporcione experiências reais.

9 – Investir em alfabetização digital, adoção de IA e práticas sustentáveis para preparar futuros trabalhadores e aumentar a produtividade. O estudo do WTTC identificou um gap de habilidades nos trabalhadores da indústria, especialmente em relação ao conhecimento tecnológico e digital.

10 – Incorporar políticas flexíveis para gerenciar a demanda flutuante de mão de obra, incluindo a redução de barreiras à contratação de estrangeiros e a combinação de empregos de meio período com empregos de período integral.

Quanto à falta de profissionais capacitados, a indústria precisa investir na formação de seus colaboradores com:

  • Cursos e experiências práticas
  • Treinamentos gratuitos e subsidiados
  • Mentorias, plataformas on-line e programas de desenvolvimento de lideranças.

“Viagens e Turismo continuarão sendo um dos maiores empregadores do mundo, proporcionando oportunidades para milhões de pessoas. Mas também devemos reconhecer que as mudanças demográficas e estruturais estão transformando os mercados de trabalho em todos os lugares”, analisa Gloria Guevara.

“Muitos trabalhadores deixaram o setor durante a Covid, quando o Turismo parou. Agora, com a previsão de queda do desemprego global e a redução da população em idade ativa, isso está aumentando a pressão sobre a oferta de mão de obra, especialmente em setores de rápido crescimento, como Viagens e Turismo. Este relatório é um chamado à ação. Trabalhando em conjunto com governos e instituições de ensino, nosso setor deve enfrentar esses desafios e continuar sendo um dos maiores empregadores, oferecendo trajetórias de carreira dinâmicas para as gerações futuras. O WTTC colaborará com autoridades governamentais em todo o mundo para garantir que políticas sejam implementadas para reduzir essa lacuna e liberar o potencial em seus países”, finaliza a CEO interina do WTTC.

Gloria Guevara

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é editor-chefe da PANROTAS, jornalista formado pela UFRJ e especializado em Turismo há mais de 30 anos.