Da Redação   |   15/03/2023 16:20

Mariana Aldrigui: "O que nos transforma é reconhecer o outro"

Para ela, enxergar o outro, reconhecer o outro como diferente, dá cor e sentido ao mundo

Por Mariana Aldrigui, pesquisadora da Universidade de São Paulo

PANROTAS / Emerson Souza
Mariana Aldrigui
Mariana Aldrigui
A pergunta tema do Fórum PANROTAS 2023 deve ser entendida como uma provocação que cada um de nós precisa se fazer com alguma frequência se o objetivo é aceitar que a única certeza que temos em qualquer dos setores de nossa vida: somente a mudança é permanente. Entretanto, conforme vamos nos apropriando de conhecimentos, teóricos, práticos, emocionais e até espirituais, mais facilmente nos ouvimos repetindo, ainda que silenciosamente, frases como “agora eu já aprendi” ou “com isso eu já sei lidar”.

O ponto é que o aprendizado é sempre individual, da mesma forma que os nossos referenciais, enquanto as mudanças são coletivas e aceleradas por uma série de fatores que acontecem com forças distintas em velocidades incompatíveis com o nosso tempo de aprendizado.

De onde estou hoje, provocada por esta pergunta, ouso selecionar apenas uma recomendação que, de tão simples, é também extremamente abrangente e desafiadora: o que nos transforma é reconhecer o outro. Para reconhecer o outro, é necessário entender que existem diferenças e é no encontro e no convívio com diferentes que se criam os ambientes mais propícios para as soluções inovadoras que tanto buscamos.

Confesse que você já não se surpreendeu com as mais divertidas e perspicazes soluções dos brasileiros que deveriam ser “estudados pela Nasa”? Ao descartar seus preconceitos de observação, encontrará criatividade, inteligência, uso racional de recursos, sustentabilidade, reuso, ressignificação mas, principalmente, solução. E em geral solução que nasce de uma inspiração a partir de algo inicialmente fora do alcance.

Nossas músicas são assim, nossas piadas e memes são assim, nossa forma de falar e de mandar mensagem é assim. E, obviamente, nosso trabalho é assim. Enquanto um grupo ainda muito significativo se recusa a aceitar mudanças já consolidadas, e outras em processo de consolidação, há outros já dedicados a enxergar OS MUITOS OUTROS, que já não estarão mais invisíveis.

Ao enxergar as ausências, por exemplo, seremos capazes de ampliar a diversidade, de gênero, de cor, de religião, de origem, de pensamento. Ao levantar o olhar e deixar de contemplar nossos iguais (e nossos umbigos), e verificarmos os muitos exemplos de riqueza nas trocas, estaremos nos transformando e, por consequência, transformando tudo ao nosso redor.

Enxergar o outro, reconhecer o outro como diferente, e por isso mesmo indispensável para dar cor e sentido ao mundo, é um movimento transformador de indivíduos cujas consequências são, sempre, positivas. E, não custa lembrar, são justamente as diferenças que fazem milhões de pessoas embarcarem em viagens inesquecíveis por cores, sabores, aromas e texturas nesse mundo em constante transformação.


Este artigo integra a edição 1551 da Revista PANROTAS. Leia agora:


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