Rodrigo Vieira   |   26/09/2025 18:33
Atualizada em 26/09/2025 18:35

Saída de Celso Sabino é presente para o Turismo do Brasil, diz Mariana Aldrigui

Veja os argumentos da professora e pesquisadora de Turismo da USP Mariana Aldrigui em seu artigo

PANROTAS / Emerson Souza
Mariana Aldrigui, da USP, comemora saída do ministro do Turismo em artigo; leia a seguir
Mariana Aldrigui, da USP, comemora saída do ministro do Turismo em artigo; leia a seguir

A professora e pesquisadora de Turismo da Universidade de São Paulo Mariana Aldrigui enxerga a carta de demissão assinada hoje pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, como uma boa notícia, um presente para o Brasil no Dia Mundial do Turismo, que é celebrado em 27 de setembro. Por quê? Leia o artigo escrito pela acadêmica exclusivamente ao Portal PANROTAS para entender.

PANROTAS / Filip Calixto
Celso Sabino
Celso Sabino

Segue na íntegra:

Um presente para o Brasil no dia mundial do Turismo

Por Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora de Turismo na USP

O tema do Dia Mundial do Turismo em 2025, celebrado em 27 de setembro, é Turismo e Transformação Sustentável. A proposta convida países a apresentarem estratégias claras, metas verificáveis e compromissos transparentes. No Brasil, porém, ainda nos debatemos com disputas políticas, narrativas infladas e resultados pouco concretos. Mas ao menos uma boa notícia pode ser comemorada: a carta de demissão de Celso Sabino.

Com uma gestão marcada pela disputa de espaço com o presidente da Embratur, cuja atuação conseguiu efetivamente apresentar mudanças e avanços, Sabino fez muito pouco pelo Turismo doméstico — que deveria ser seu principal foco, já que representa mais de 90% da movimentação de turistas no País. A falta de conhecimento técnico e de compreensão das questões operacionais para sediar um grande evento fez com que, mesmo sendo paraense, fosse incapaz de atuar de forma objetiva na solução dos preços abusivos de hospedagem em Belém, às vésperas da COP30.

Qualquer profissional que tenha participado das edições do Salão do Turismo sabe exatamente o que marcou essa gestão: gastos exagerados em eventos vazios, com resultado pífio, números divulgados sem auditoria, e praticamente nenhum efeito prático nos resultados do setor.

Ao insistir em celebrar números recordes sem apresentar metodologias auditáveis ou microdados acessíveis, o ministério transformou estatísticas em peças de marketing. Não respondeu até hoje qual o volume de brasileiros residentes no Exterior está incluído nos recordes celebrados. Para o mercado e a academia, a falta de transparência fragiliza qualquer análise séria e compromete o planejamento de longo prazo, que exige dados confiáveis.

O contraste é evidente: enquanto a Embratur avança em ações concretas de promoção internacional e busca articulação com o setor privado, o Ministério patina em disputas políticas e repete slogans. O resultado é um vácuo de liderança em temas estruturantes, como conectividade aérea regional, infraestrutura básica em destinos turísticos e qualificação da mão de obra.

A contradição também aparece quando se fala em sustentabilidade. Como conciliar o discurso de “transformação sustentável” com o estímulo a um aumento exponencial de voos internacionais, sem que haja contrapartidas ambientais claras? A pegada de carbono do transporte aéreo é um dos maiores desafios do turismo contemporâneo, e ignorá-la compromete a credibilidade do país em um momento em que o mundo inteiro acompanha nossos passos rumo à COP30.

A saída de Sabino, embora traga certo alívio, não resolve o problema estrutural de um ministério que se mantém refém de interesses políticos imediatos. A sucessão de nomes sem vínculo técnico com o setor gera descontinuidade, baixa efetividade e fragilidade institucional.

Enquanto isso, países concorrentes avançam com planos estratégicos de longo prazo, que combinam metas ambientais, investimentos em infraestrutura e políticas integradas de Turismo doméstico e internacional. O Brasil, que reúne atributos únicos de diversidade cultural e natural, segue desperdiçando oportunidades.

Transformação sustentável, no Turismo, exige mais do que slogans: pede coerência entre discurso e prática, dados transparentes para guiar decisões e uma coordenação federativa que integre União, estados, municípios e setor privado, este sim o responsável real pelos avanços que temos hoje. Sem isso, a cada Dia Mundial do Turismo repetiremos a mesma constatação: o potencial é enorme, mas a distância entre o que celebramos e o que de fato entregamos continua sendo abissal.

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Sobre o autor

Rodrigo Vieira é jornalista com 12 anos de especialização na indústria de Turismo, todo esse tempo orgulhosamente na PANROTAS. Sua maior satisfação profissional é quando, por meio de seu trabalho, ajuda um agente de viagens a obter êxito. Conhece 30 países e ama viajar para o Exterior, mas jamais moraria fora do melhor destino de todos, o Brasilzão.