Laura Enchioglo   |   10/09/2025 17:53

IOF, neve, verão europeu e COP30: Braztoa destaca desafios e tendências de 2025

Pesquisa analisou tanto os efeitos de fatores externos, como questões geopolíticas e variações cambiais


PANROTAS / Marluce Balbino
Marina Figueiredo e Fabiano Camargo, da Braztoa
Marina Figueiredo e Fabiano Camargo, da Braztoa

Para compreender melhor o comportamento do mercado e os impactos reais e práticos sobre vendas, demanda e percepção dos viajantes, a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) realizou um levantamento com seus associados, mapeando os temas que estiveram em evidência no primeiro semestre deste ano.

O Boletim Braztoa 2025 analisou tanto os efeitos de fatores externos como questões geopolíticas, variações cambiais e repercussões de temporadas anteriores quanto o movimento de adaptação do setor, mostrando como os operadores têm buscado alternativas, diversificado destinos e se preparado para novas oportunidades.

"Mais do que números, esses resultados mostram a importância de estarmos atentos ao pulso do mercado, acompanhando tudo que gera impacto, seja de forma imediata ou no médio e longo prazo, e que influencia os negócios dos nossos operadores. A Braztoa tem um papel fundamental em antecipar e compreender os cenários, municiando nossos associados com informações estratégicas que se transformam em inteligência de negócio. Nesse contexto cada vez mais dinâmico e de múltiplos impactos, os operadores demonstram crescente capacidade de criatividade, ajustes e resiliência, buscando as melhores oportunidades para seus clientes e para o desenvolvimento do Turismo no Brasil"

Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa

“Este levantamento evidencia um cenário de instabilidade regulatória, econômica e geopolítica que impactou diretamente o setor. É importante ressaltar que mesmo diante do aumento do IOF e de mudanças relevantes nos principais destinos internacionais, o Turismo brasileiro permanece forte e estratégico para a economia. As operadoras vêm respondendo com inovação e diversificação de produtos, mas é imprescindível que avancemos em direção a um ambiente regulatório estável e previsível. Como associação, seguiremos atuando para que o papel do operador de Turismo seja valorizado e para que o setor possa crescer de forma sustentável”, disse Fabiano Camargo, presidente do Conselho da Braztoa.

A seguir, o boletim detalha os principais temas que movimentaram a economia e o Turismo no período: IOF, Estados Unidos, Temporada de Neve, Verão Europeu, Argentina e COP30.

IOF: Entre retração, prejuízos e cautela, setor sente os efeitos da alta do imposto

Neste primeiro semestre, o aumento do IOF encareceu pacotes, gerou insegurança e afastou parte dos consumidores: 19% das operadoras relataram que o aumento encareceu significativamente as viagens, assustando e desestimulando os consumidores, enquanto 32% apontaram impactos ainda mais severos, com prejuízos financeiros já registrados. Para outros 23%, houve alterações no comportamento dos clientes como redução de orçamento, encurtamento de estadias ou troca de destinos, mas sem reflexos significativos nas vendas destes.

Estados Unidos: entre preocupações e ajustes de foco

Julienne Schaer/NYC & Company
Recentes mudanças envolvendo EUA já refletem no comportamento do mercado brasileiro
Recentes mudanças envolvendo EUA já refletem no comportamento do mercado brasileiro

As recentes mudanças envolvendo viagens para os Estados Unidos, em especial as taxas adicionais e exigências para o visto, bem como a insegurança na entrada do país, além de questões geopolíticas, já refletem no comportamento do mercado brasileiro.

Ainda que apenas 3% registraram cancelamentos de viagens já compradas, 45% das operadoras apontaram queda nas vendas futuras para o destino. Além disso, 24% ainda não observaram impacto direto nas vendas, mas relatam preocupação crescente dos clientes, enquanto 21% afirmam não ter percebido qualquer alteração até o momento.

Quando perguntado se a operadora percebeu impactos em novas compras de viagens consideradas apenas as questões geopolíticas, não relacionadas diretamente ao Turismo, o impacto é semelhante: 48% indicaram redução nas vendas, 24% destacaram que os clientes estão atentos e preocupados, mas sem mudanças efetivas, e 21% disseram não identificar impacto.

Esse contexto já começa a provocar ajustes: 10% das operadoras passaram a direcionar esforços para promover outros destinos, e 38% relatam que os próprios clientes vêm buscando alternativas de forma espontânea. Ainda assim, 38% afirmam manter o foco nos EUA, enquanto 14% seguem avaliando como lidar com possíveis redirecionamentos.

Temporada de neve: repercussões e ajustes

Pixabay
Valle Nevado, no Chile
Valle Nevado, no Chile

Outro ponto de atenção no primeiro semestre foi a temporada de neve e esqui, com um olhar para Chile, especialmente em Santiago e arredores. Após o alto volume de brasileiros e a repercussão negativa de 2024, marcada por superlotação, longas filas e problemas de infraestrutura nos centros de esqui, o mercado já sinaliza impactos.

Para 12% das operadoras, houve diminuição da procura em função direta desses episódios, enquanto 15% afirmaram que os clientes mencionaram o ocorrido, mas sem reflexo expressivo nas vendas. A maior parte, 46%, não percebeu impactos, e 27% destacaram que a demanda permanece alta, mesmo diante das críticas.

Ainda assim, o tema trouxe mudanças estratégicas. Questionadas sobre ajustes para 2025, 27% das operadoras afirmaram ter diversificado a oferta, ampliando opções para além dos destinos mais tradicionais, ainda que sem deixá-los de promover.

No mesmo percentual, outras apontaram que os próprios clientes já vêm espontaneamente buscando alternativas e destinos menos conhecidos. Por outro lado, 38% seguem apostando nos destinos consagrados, como Chile e Bariloche, sem alterações significativas em sua estratégia.

Entre as alternativas fortalecidas pelas operadoras no movimento de diversificação, destacam-se Chubut, Ushuaia e a Patagônia, que aparecem como opções para driblar a concentração de demanda e oferecer novas experiências de neve aos brasileiros.

Verão europeu: altas temperaturas e superlotação sob observação

Unsplash
Temporada de verão europeu também foi analisada, considerando os impactos das experiências negativas registradas em 2024 e novamente em 2025
Temporada de verão europeu também foi analisada, considerando os impactos das experiências negativas registradas em 2024 e novamente em 2025

No outro extremo do calendário, a temporada de verão europeu também foi analisada, considerando os impactos das experiências negativas registradas em 2024 e novamente em 2025, como temperaturas extremas, superlotação e relatos de desconforto. Até o momento, os efeitos sobre as vendas foram mínimos e muito limitados: apenas 7% das operadoras apontaram queda na procura, enquanto 13% afirmaram que ainda é cedo para mensurar o real impacto.

Apesar de não terem influenciado diretamente nas vendas, as preocupações se refletiram na percepção dos viajantes: 27% das operadoras relataram comentários ou reclamações sobre as condições da temporada passada, e 20% já receberam queixas de clientes que estão viajando neste ano.

Quando analisadas possíveis mudanças de comportamento, mesmo sem queda efetiva na demanda, o cenário mostra nuances. Apenas 7% das operadoras identificaram clientes escolhendo destinos alternativos dentro da Europa ou em regiões próximas, o mesmo percentual apontou ajustes no período da viagem para evitar meses mais quentes. Outros 17% observaram ambos os movimentos, mudança de destino e de período. A maior parte, entretanto, 63%, não percebeu alterações significativas.

Argentina: percepção de custo-benefício em foco

Unsplash
Argentina continua sendo um destino que historicamente apresenta oscilações na demanda
Argentina continua sendo um destino que historicamente apresenta oscilações na demanda

A Argentina continua sendo um destino que historicamente apresenta oscilações na demanda, muito atreladas à percepção de custo-benefício por parte dos viajantes, influenciada por fatores como variação cambial, inflação local e valorização da moeda frente ao real. No primeiro semestre de 2025, essas variáveis estiveram em destaque, impactando a atratividade do país.

Dentro deste período, para 53% das operadoras, a Argentina foi avaliada como pouco atrativa sob a ótica do custo-benefício, enquanto 23% ainda a consideram atrativa, ou seja, interessante mesmo diante de aumentos e algumas incertezas. Outros 23% avaliaram o país de forma neutra, sem destaques significativos, positivos ou negativos.

Considerando a natureza flutuante do destino, 32% dos operadores acreditam que a percepção dos viajantes pode mudar ao longo do segundo semestre, enquanto 48% afirmam que ainda é cedo para tirar conclusões definitivas.

Brasil – Pará: Belém em foco com a COP 30

Embratur/Sebrae
Belém é sede da COP 30 em novembro
Belém é sede da COP 30 em novembro

Belém, apontado como principal destino emergente no Anuário Braztoa 2024, passa a ser acompanhada de perto e ganha atenção especial em 2025, ano-chave para avaliar como a visibilidade da COP 30, que será realizada em novembro, pode impactar o interesse e as vendas para a cidade.

No primeiro semestre, a percepção das operadoras indica que o impacto direto sobre vendas de viagens a Turismo para a cidade ainda é limitado: 38,7% afirmam não ter percebido mudanças significativas, enquanto apenas 12,9% registraram aumento claro no interesse ou nas vendas relacionado à visibilidade do evento. Outros 3,2% apontam crescimento restrito a nichos específicos.

Por outro lado, há sinais de cautela: 22,6% das operadoras observaram retração no interesse, influenciada por fatores como aumento de preços, desafios logísticos ou incertezas relacionadas ao evento, mesmo para viagens que não aconteceram no período do evento (COP30) e 41,9% expressaram receio de que possíveis falhas de organização ou impactos negativos durante a COP30 possam prejudicar a imagem do destino no futuro.

Apesar disso, uma parcela menor já está se preparando para aproveitar a oportunidade, com 6,45% comercializando pacotes específicos e outros 6,45% considerando o evento como uma grande oportunidade para o pós-COP30.

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Sobre o autor

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, Laura Enchioglo é repórter na PANROTAS, onde entrou como estagiária em 2023. Tem experiência em assessoria de imprensa e na cobertura de economia e finanças.