Movida

Da Redação   |   03/05/2022 17:12

Há um novo luxo? Agências, operadoras e especialistas respondem

Profissionais ouvidos pela PANROTAS são unânimes em destacar que a busca por experiências significativas

Carla Lencastre, especial para a PANROTAS


Autenticidade. Esta é a palavra-chave da fase atual do mercado de Viagens de Luxo. Profissionais de diferentes segmentos do setor ouvidos pela PANROTAS são unânimes em destacar que a busca por experiências significativas, muito mais do que pela ostentação do luxo tradicional, é tendência que surgiu há alguns anos e a pandemia só fez crescer e acelerar.

Autêntico é algo legítimo, genuíno, característico daquele local ou daquela cultura. Que conta uma história relevante e que faça sentido. Não é algo fake ensaiado, repetido de um livro de boas maneiras. Também não é apenas sinônimo de natureza. Pode significar uma imersão na Floresta Amazônica, sim, ou cinco noites em Paris se hospedando no novíssimo Bvlgari, na Avenue George V, jantando em restaurantes estrelados, revisitando os museus incríveis. Mas autenticidade passa sempre longe de ostentação.

Há um novo luxo? Agências, operadoras e especialistas respondem abaixo. Esta matéria é parte integrante da Revista PANROTAS EDIÇÃO ESPECIAL LUXO 2022, cuja verão digital completa pode ser conferida ao final desta página.

MARINA GOUVÊA, PRIMETOUR

PANROTAS / Emerson Souza
“Não existe um novo luxo, mas sim um novo cliente. Os hábitos dos consumidores mudaram muito durante a pandemia. A necessidade de imediatismo é enorme. O viajante de luxo passou a comprar mais com agentes de viagens, mesmo quem antes comprava on-line. Todo mundo agora quer falar com uma pessoa real, e não com um robô de call center. Sentimos essa migração para consultores de viagens. Há também uma conscientização maior de que ‘só é bom para mim se for bom para todos’. Ganhamos um senso de coletivo durante a pandemia. O individualismo diminuiu muito. A busca por experiências memoráveis e por viagens sustentáveis aumentou. Se eu posso ir para um hotel legal que ajuda de alguma maneira o planeta ou a comunidade local, que oferece as mesmas coisas e cobra o mesmo preço, eu vou escolher esse hotel. Autenticidade tem a ver com consciência e propósito. Não é determinante, mas é um caminho que as pessoas estão percorrendo. O consumo do luxo tem que ter uma compensação. Se eu tenho esse privilégio, o que eu posso dar em troca?”.

EDUARDO GAZ, TTW

Divulgação TTW Group
“Há uma maior valorização pela experiência, a qualidade. Mais do que disrupção, há uma nova percepção do que é luxo. As pessoas passaram a valorizar mais o que é autêntico, o que é de verdade. Seja o contato com as pessoas, o cheiro do lugar, o gosto da comida. Luxo nunca foi ostentação. E agora mais pessoas estão percebendo isso. Acredito que quando todas as restrições de viagem forem suspensas teremos uma busca muito grande por destinos remotos na Ásia, como Butão ou Mongólia, que são lugares únicos”.

TOMAS PEREZ, TERESA PEREZ TOURS

PANROTAS / Filip Calixto
“O luxo não mudou. A busca por autenticidade é que aumentou de maneira intensa. Cada perfil de viajante procura algo diferente. Há pessoas que gostam de ir jantar na casa de moradores, outros têm pavor da ideia. O que não quer dizer que não querem interagir com a cultura local. O viajante de luxo, independentemente do perfil, busca experiência e exclusividade. Isso pode significar ver de perto um gorila em Ruanda ou um urso polar na Groenlândia. Ou assistir ao torneiro de Roland-Garros em Paris. Mas também pode ser fazer um piquenique em noite lua cheia nos Lençóis Maranhenses ou mesmo comer um pastel de feira em São Paulo. A busca pela excelência de serviço também não mudou. Mas a pandemia sacrificou o mercado em todas as esferas. Várias pessoas saíram e é demorado formar outras. O mundo está voltando ao normal, mas são necessários ajustes para alcançar o equilíbrio”.

BRUNO VILAÇA, SUPERVIAGEM

Divulgação
“Já falamos de um novo luxo há um bom tempo. É um segmento em constante transformação, que foi acelerada, como tudo, durante estes tempos desafiadores que vivemos nos últimos dois anos. Não existe um novo luxo, mas ele está mudando. Tenho até evitado usar o termo luxo, ainda que seja difícil encontrar um substituto. A procura por autenticidade é inegável, a busca por viagens mais demoradas, por reconexões, por raízes, por coisas que as pessoas já conheçam e remetam a memórias afetivas. A busca por viagens multigeracionais e de celebração também aumentou. Sendo mais romântico, é por este lado. Sendo mais prático, o last minute é uma tendência. Não sei se é um novo luxo, mas é o que eu vejo. Não existe mais um luxo padrão, aquele luxo clássico anterior. O luxo pode estar na experiência, na gastronomia, nas pessoas, no lifestyle. O luxo hoje não é mais uma coisa só. É muita coisa. O luxo está na cabeça. Depende da percepção, do que cada um está procurando. O impacto da busca pela autenticidade é irreversível, brutal. As pessoas estão procurando até mais do que isso. Hoje vemos hotéis maravilhosos, novos ou antigos e reconhecidos, mas sem alma, frios, descaracterizados, deslocados do local onde estão inseridos. Meus clientes não querem mais isso, o luxo por si só. Querem vida, e não um lugar sem alma. Eles querem se sentir parte daquele ambiente. É uma coisa que os hotéis estão tendo cada vez mais cuidado, porque o cliente fica completamente desapontado quando tudo funciona bem, tudo high tech, um arquiteto maravilhoso, mas falta vida. Isso é importantíssimo”.

ROGÉRIA PINHEIRO, CONSULTORA

Reprodução/ Youtube Rogéria Pinheiro
"O novo luxo está relacionado a exclusividade, personalidade, experiências genuínas, fora da rotina, que ao mesmo tempo contribuam para o prazer e o conhecimento do viajante. Alguns exemplos são os hotéis que oferecem experiências gastronômicas farm-to-table e lodges na África engajados com comunidades locais, mas sem tratar o turista como um salvador. A experiência local é protagonista. O luxo perdeu as características de ostentação material, artificial, espalhafatosa, para a ostentação do que falta: ter liberdade de desconectar, a imersão com a família, ampliar o olhar sobre o outro através da cultura e dos costumes. Ao se sentirem limitadas em algo básico, a liberdade, as pessoas tiveram que rever suas prioridades. A circunstância impulsionou o mercado de luxo a olhar de maneira diferente para seus consumidores. Pode parecer simplista, mas um sorriso nunca foi tão valorizado. A oportunidade de gerar conexões verdadeiras para vender a partir de necessidades reais e desejos dos clientes hoje é uma ferramenta de altíssimo valor. Saem na frente os serviços de Turismo que entenderam que suas entregas precisam ser baseadas nas pessoas”.

MARCO LOURENÇO, QUEENSBERRY

PANROTAS / Emerson Souza
“Nossos clientes continuam buscando as tradicionais viagens luxuosas, com hospedagens em hotéis boutique, serviços exclusivos e personalizados, e tudo que uma viagem de luxo pode oferecer. Porém, temos notado uma mudança em algumas características desse segmento de viagem. Atualmente, os passageiros de luxo buscam e focam em um Turismo mais consciente voltado à sustentabilidade, conservação e preservação da natureza, e valorização de comunidades e da mão de obra local a fim de vivenciar verdadeiras experiências de imersão com as culturas locais. Uma viagem de luxo, que é totalmente personalizada, cheias de detalhes e inúmeras alternativas, demanda aos profissionais do turismo uma maior dedicação, atenção e conhecimento. Esse tipo de viagem requer profissionais altamente qualificados e especializados para criar e operar, artesanalmente, viagens incríveis que satisfaçam e alcancem as expectativas dos viajantes mais exigentes, desde o primeiro atendimento, durante a viagem, até o seu retorno. Há também a necessidade constante de inovações tecnológicas para auxiliar o processo, mas sem perder a proximidade pessoal do agente de viagens com o passageiro e com todos os fornecedores dos serviços oferecidos. Tudo isso faz parte da essência da Queensberry, que também dita tendências e foi pioneira em viagens para Dubai, África do Sul, Filipinas entre outros destinos.”

RENATA GARCIA, GOYA BY COPASTUR

PANROTAS / Filip Calixto
"O que as pessoas estão buscando mesmo é viver suas essências, é viver o que elas acreditam, seja ficar em um hotel no Burj Al Arab com tapete, peça e piso de ouro, ou seja ter uma experiência em um iglu no meio do nada para ver e refletir sobre o mundo. Portanto, o luxo é o tempo. É viver o tempo, é não deixar para trás. O novo luxo é realizar o mais rápido possível os sonhos que deixamos para depois. É recuperar aquilo que ficou perdido. O que o consumidor tem buscado são os mesmos destinos que ele já sonhava em visitar e conhecer, mas ele não quer esperar mais. Como consequência disso, estamos tendo uma demanda de ultra last minute, para ticar a lista dos destinos de desejos, a wanderlist, dos viajantes que estão sedentos para recuperar o tempo, ou revenge travel. Para conciliar tanta demanda e a multiplicidade de preferência dos consumidores, nós, profissionais do Turismo temos de buscar a sincronia entre os interesses e desejos do viajante sem perder as causas que acreditamos, como a de impactar o mundo por meio da forma como fazemos negócios. Neste contexto, vale ressaltar que a Goya by Copastur conquistou o prêmio Virtuoso ano passado por uma ação que para cada viagem, revertíamos uma parte em doação de alimentos para a ONG Banco de Alimentos. Tem também nosso kit viagem que é feito com a Pano Social, uma empresa que faz um trabalho de reinserção de ex-detentos na sociedade".

SIMONE SCORSATO, BRAZILIAN LUXURY TRAVEL ASSOCIATION (BLTA)

PANROTAS / Emerson Souza
“Podemos falar de um novo luxo de duas formas. A primeira é o chamado ultraluxo, com experiências e produtos altamente qualificados, muito raros, e que tem aí um preço que pega o topo da pirâmide. São produtos que nem são tão promovidos, por serem inacessíveis. A outra é que o conceito do novo luxo vem com uma tendência de consumo. Falamos de produtos qualificados que tenham na sua bagagem um legado. Mas a condição para ser consumido é a não ostentação. O novo luxo é simples. E isso é difícil. Apresentar um produto de luxo para quem não quer ostentação é uma expertise. O novo luxo tem propósito, tem viés de sustentabilidade, de responsabilidade, de origem. Qual o impacto positivo daquele serviço que pode ser raro e surpreendente? O consumidor tem um propósito, que tem a ver com a crise climática, com a manutenção das florestas, com a sobrevivência das comunidades. O padrão do serviço de luxo preza pela excelência. É preciso capacitar pessoas sem padronizar, valorizando o estilo de cada uma. Além das pessoas, podemos pensar, por exemplo, em produtos da região, em trazer o design, o sabor, o cheiro. Ser autêntico é buscar elementos da cultura local para o serviço. Tem empreendimentos que conseguem trazer isso com seu quadro de colaboradores. O que não exclui o lençol de 400 fios. Luxo tem que ter conforto. Mas quando você traz a autenticidade das pessoas, você alcança a excelência de serviço”.




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