Da Redação   |   11/05/2023 12:13
Atualizada em 11/05/2023 14:31

Ibiti Projeto: Onde luxo, sustentabilidade e regeneração convivem

Espaço de 6 mil hectares em Lima Duarte (MG) é focado em atividades para conexão com a natureza

Carla Lencastre, especial para a Revista PANROTAS

Um mar de montanhas, hospitalidade e cultura regional... Chegamos ao Ibiti Projeto

PANROTAS/Carla Lencastre
Prainha do Engenho Lodge, a 15 minutos de caminhada da casa principal
Prainha do Engenho Lodge, a 15 minutos de caminhada da casa principal
O aroma do bolo de gengibre saído do forno é prenúncio de um bom começo de dia. Logo confirmado quando uma fatia de queijo é cortada e Antônio, a arara, se aproxima para tentar pegar um pedaço. A vista panorâmica para o incomparável mar de montanhas de Minas Gerais emoldura o cenário do café em uma das varandas do Engenho Lodge, no Ibiti Projeto.

Mais tarde, é difícil resistir aos pratos da cozinha regional servidos no fogão a lenha no salão da casa de fazenda. Ou ao bufê de doces caseiros acompanhados de um minas frescal em formato de coração, tão bonito que dá até pena de partir. À noite, o ménu degustação em três etapas, e alguns amuse-bouches pelo percurso, surpreende pelo ambiente com mesas à luz de velas em torno de uma fogueira, em um pátio ao ar livre sob o céu estrelado. Acompanha uma mantinha para proteger do sereno e rótulos brancos e tintos da vinícola mineira Luiz Porto.

Entre uma refeição memorável e outra, todas sempre valorizando produtores locais e regionais, os caminhos da área do Parque Estadual do Ibitipoca estão abertos para as mais diferentes atividades em conexão com a natureza. Praticar ioga, fazer trilha, entrar na água gelada de uma cachoeira, pedalar montanha acima e abaixo, admirar as sete gigantescas esculturas ao ar livre da artista americana Karen Cusolito, tomar um café fresco na Vila do Mogol, visitar a reserva dos muriquis, o maior primata das Américas. Ou, simplesmente, beber uma cachacinha hiper local, quem sabe um uisquinho mineiro, tentando contar os tons de verde ao redor, as borboletas azuis, as quaresmeiras roxas espalhadas pelas montanhas.

ENGENHO LODGE

O Engenho Lodge, associado à Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), demonstra como luxo, sustentabilidade e regeneração podem conviver perfeitamente em um modelo de negócio. Exemplo simples e, ao mesmo tempo, gentil: na chegada, o hóspede recebe um copo, que fica pendurado na parede com seu nome ao lado. Na bancada em madeira, há sempre água gelada aromatizada, com sabores diversos, e água natural e sem sabor. Nos quartos, duas moringas podem ser abastecidas quantos vezes por dia for necessário.

PANROTAS/Carla Lencastre
Sede do Engenho Lodge
Sede do Engenho Lodge
São oito confortáveis suítes decoradas com delicadeza. Um quadradinho de doce de leite com a inicial do nome gravada e uma garrafa em metal para água nos passeios dão as boas-vindas. No banheiro, há banheira, suporte aquecido para toalhas, disco removedor de maquiagem de crochê em fio 100% de algodão (lavável e reutilizável), amenidades de banho em embalagens grandes da marca Santapele, inspirada na Mata Atlântica e criada por Carlos Alberto Filgueiras, fundador dos Hotéis Emiliano, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O enxoval de cama e banho tem a grife Trousseau. Um painel bordado no ateliê da artista carioca Mucki Skowronski enfeita uma parede do quarto; em outra, janelas abrem para o verde.

Na casa principal em estilo colonial, além das acolhedoras acomodações, ficam uma luminosa e espaçosa sala de estar com piano e varanda com redes, sala de televisão, adega com vinhos e destilados (incluindo o single malt whisky Verus, da destilaria Lamas; gim e vodca, todos produzidos em Minas Gerais) e um bar de cachaças. O restaurante do Engenho, também no casarão, não serve carne bovina nem refrigerantes (com exceção de água tônica) e tem no menu de jantar pratos de Claude Troisgros e do vencedor do MasterChef Pablo Oazen.

Dá para passar um bom par de horas admirando a decoração, na qual se percebe o esmero com que cada antiguidade ou obra de arte foi escolhida, como um gramofone ou as gravuras de Margaret Mee. Dica: não deixe de pegar com a mão algumas das diferentes madeiras brasileiras que formam as três xilotecas da sede, com peças idênticas em formato e tamanho, e pesos diferentes, dependendo da espécie utilizada. São do DJ Papagaio, que assina a xiloteca que dá boas-vindas aos visitantes no lobby do centenário Belmond Copacabana Palace. Outro ponto em comum com o Copa: alguns apoios de prato são de Domique Jardy, artista francesa radicada no Rio e com diversos trabalhos no hotel mais glamouroso da orla carioca.

Spa e sauna seca ficam em construções diferentes no jardim do Engenho, que tem ainda uma área com mesa comunitária e um fogão a lenha sob a sombra de majestosas jabuticabeiras, onde os hóspedes podem ser surpreendidos com o serviço de café da manhã. É tudo charmoso e gostoso, com tapiocas e ovos sendo preparados ali mesmo. Antônio, a arara, sempre dá um jeito de sair
do seu posto na casa principal para ir até lá pegar um pão de queijo fresquinho enquanto os hóspedes fazem novos amigos e se distraem com muitos dedos de prosa.

Há ainda a Casa Carlinhos, com três suítes, entre 60 e 70 metros quadrados cada, sala e cozinha equipada. Banheira e chuveirão ao ar livre, ambos com vista para o imponente Pico do Gavião (1,66 mil metros de altitude), completam a encantadora opção de hospedagem no Engenho. Perfeita para famílias ou pequenos grupos, a casa pertencia ao antigo dono da Fazenda do Engenho.

PANROTAS/Carla Lencastre
Antônio, a arara comilona do Engenho Lodge
Antônio, a arara comilona do Engenho Lodge
Uns 15 minutos de caminhada tranquila a partir da casa principal, por uma trilha aberta e quase plana, leva à Prainha. Não é fácil escolher o recanto mais adorável do lodge, mas aqui está um forte concorrente. A Prainha é formada por uma pequena cachoeira que deságua em um lago dourado de águas calmas e transparentes. Outras trilhas partem para a Cachoeira do Gritador e o platô onde hoje mora a família em ferro de Karen Cusolito, criada para o festival Burning Man, no deserto de Nevada (EUA).

Quem ficar na piscina natural da Prainha, encontra espreguiçadeiras e mesas à beira do lago. Em uma área coberta, há sucos, linguicinha feita na hora no fogão a lenha e cerveja gelada. As garrafas de long neck consumidas na Prainha, e em todo o Ibiti Projeto, são cortadas e transformadas em copos, seguindo os princípios da economia circular. Já as garrafas de vinho, viram luminárias para o jardim.

Na véspera do check-out, não se esqueça de encomendar comes e bebes da região para levar de lembrança e fortalecer a mão de obra local. Há azeites, cachaças, mel e queijos produzidos nas fazendas vizinhas, com destaque para o minas padrão artesanal, o preferido de Antônio, produzido na Fazenda da Bica, em Conceição de Ibitipoca. O time Meninas do Engenho faz pães, geleias, doces, bolos e biscoitos deliciosos, lindamente embalados para a viagem.

Vários produtos seguem receitas de família dos funcionários ou que foram criadas pelas cozinheiras do lodge. Tudo feito ali mesmo, na cozinha que reproduz na decoração a do desenho Ratatouille (Pixar-Disney, 2007, Oscar de melhor filme de animação). Quem se diverte com as peripécias de Rémy nos bastidores de um restaurante parisiense, vai se encantar com uma visita à cozinha do Engenho Lodge. A porta está sempre aberta.

IBITI PROJETO

O Engenho Lodge é uma das três opções de hospedagem do Ibiti, projeto socioambiental idealizado por Renato Machado, empresário de Juiz de Fora. No Ibiti Projeto, 98% da área de 6 mil hectares é preservada ou está em processo de restauração, inclusive com reintrodução da fauna local, como os muriquis. Todos os empreendimentos locais têm o objetivo de estimular o crescimento econômico
da região, preservando e regenerando a natureza.

PANROTAS/Carla Lencastre
Pico do Gavião ao entardecer
Pico do Gavião ao entardecer
Para quem chega de visita, a primeira sensação é a de que o tempo passa de maneira diferente no Ibiti. Margeando o Parque Estadual do Ibitipoca, o projeto tem acesso por 20 quilômetros de estrada de terra a partir de Lima Duarte (MG). Ou por monomotor (há uma pista de pouso gramada de 900 metros de extensão), perto do Engenho. Ou por helicóptero. Neste caso, o pouso pode ser no gramado do próprio Engenho, em frente à varanda onde às vezes é servido o café da manhã.

Outra opção de hospedagem no Ibiti Projeto é o Remote, com três casas confortáveis e isoladas para quem preza privacidade absoluta. Em uma delas, a Isgoné, a quase 1,5 mil metros de altitude, o acesso é somente por uma trilha de 9 quilômetros, que pode ser percorrida a pé ou de bicicleta. Nas outras duas, no Areião, dá para chegar de veículo 4x4 ou de helicóptero, em um voo panorâmico com paisagens incríveis do Parque do Ibitipoca e suas muitas cachoeiras.

Já o descontraído Village fica na Vila do Mogol, minúsculo vilarejo cercado pelas montanhas com venda e café da Gaia Produtos Ecológicos (é possível visitar as plantações), igrejinha centenária, heliponto, escola infantil. Em meio às residências dos poucos moradores, há cinco charmosas casas para visitantes, cada uma com configuração e estilo únicos.

O Mogol tem sua própria Prainha e as refeições são servidas no delicioso restaurante vegetariano gourmet Yucca. Comandado pelo simpático e talentoso chef Mateus Abdo, o Yucca tem cozinha integrada ao salão e o jantar é oferecido em cinco tempos, sem menu fixo. De vez em quando, a casa promove apresentações de artistas locais e tem até um pequeno anfiteatro no jardim.


A PANROTAS viajou a convite da BLTA e do Ibiti Projeto.

Essa matéria é parte integrante da Revista PANROTAS, que circula na ILTM Latin America 2023.

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