Brunna Castro   |   04/11/2016 17:31

Ministro defende ofensiva para atração de turistas; saiba

"Agora precisamos avançar". É nisso que acredita o ministro do Turismo, Marx Beltrão, em relação ao setor no País.

Emerson Souza
Marx Beltrão, ministro do Turismo
Marx Beltrão, ministro do Turismo
"Agora precisamos avançar". É nisso que acredita o ministro do Turismo, Marx Beltrão, em relação ao setor no País.

Prestes a completar um mês no comando do Ministério do Turismo, Beltrão analisou, em entrevista, a conjuntura atual da indústria, estabeleceu os próximos passos a serem dados por seu comando na pasta - que deverão determinar, segundo ele, uma "ofensiva para a atração de turistas" - e avaliou como será a situação do País após a passagem dos grandes eventos - Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Confira a seguir a entrevista completa com Beltrão.

COMO FOI O PRIMEIRO MÊS NO MINISTÉRIO DO TURISMO?
MARX BELTRÃO - Este primeiro mês foi muito produtivo para conhecer e entender melhor as demandas do setor. Me reuni com representantes do trade, parlamentares, prefeitos e governadores, estive em eventos importantes, como o Conselho de Viagens e Eventos Corporativos, em São Paulo, o Festival de Turismo de João Pessoa, o Festuris, em Gramado. Pude observar que muitas coisas poderiam ter sido adiantadas se tivesse mais vontade política. Muitas pautas que o trade está trazendo dependem de esforço político e eu estou disposto a ajudá-los nesse sentido. Sobretudo do ponto de vista jurídico, no qual avançaremos com a reformulação da Lei Geral do Turismo.

VOCÊ JÁ AFIRMOU QUE QUER FAZER A DIFERENÇA NO TURISMO BRASILEIRO. QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA CONCRETIZAR ESSA REVOLUÇÃO?
BELTRÃO - Todos sabemos que o Brasil tem um potencial turístico sem igual no mundo. Porém, é preciso consolidar leis de fomento, programas de incentivo e profissionalização. Acredito que o Turismo será responsável por um grande salto na economia. Para tanto, precisamos mapear as prioridades, as cidades-chave em cada região para ir em busca de soluções dos pontos mais urgentes e, em seguida, os de menor impacto. Entretanto, nada disso será possível sem que consigamos aumentar o orçamento da pasta para o desenvolvimento de políticas voltadas para o setor, melhoria de infraestrutura e promoção dos nossos grandes atrativos.

FALTA RECONHECIMENTO DO POTENCIAL DO SETOR POR PARTE DO GOVERNO? O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA MUDAR ESSA IMAGEM? O QUE AINDA PRECISA SER FEITO?

BELTRÃO - A recente incorporação do Ministério do Turismo no Comitê Econômico do Governo mostra que esse governo dá muita atenção ao Turismo e reconhece seu papel como gerador de emprego e renda no País. Agora precisamos avançar em pautas importantes, como a criação de Áreas Especiais de Interesse Turístico, a criação de PPPs para gestão dos parques públicos nacionais, a manutenção do benefício da isenção de vistos para estrangeiros, a criação de um ambiente de negócios mais favorável para investimentos. Acredito que com medidas simples, o Turismo é o setor que consegue responder mais rapidamente com impactos na economia e geração de emprego e renda.

COMO A INDÚSTRIA DO TURISMO PODE AJUDAR NA RETOMADA E NA ACELERAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS?

BELTRÃO - Temos o dado de que, hoje, o Turismo emprega cerca de 3,2 milhões pessoas, mas temos a convicção de que precisamos ser mais competitivos. Somos a décima maior economia de Turismo no mundo e estamos em primeiro lugar quando se trata de recursos naturais. Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros viajam pelo País, mas há outros 70 milhões prontos para entrar nesse mercado. E é esse grande potencial que contribuirá de maneira significativa para tirar o País dessa situação de crise. No entanto, para isso é preciso que governo federal, gestores locais e empresários trabalhem juntos para promover nossos destinos e atrair cada vez mais visitantes para movimentar as economias locais e consequentemente gerar renda.

O CENÁRIO ECONÔMICO DESFAVORÁVEL COMO O QUE VIVEMOS HOJE PODE BENEFICIAR O TURISMO NO BRASIL? COMO? AS PESSOAS NÃO ESTÃO ECONOMIZANDO EM TUDO, INCLUSIVE VIAGENS, DIANTE DAS INCERTEZAS?
BELTRÃO - Acredito que o cenário que vivemos hoje é uma oportunidade para que o brasileiro conheça cada vez mais seu próprio país – que tem opções de sol e praia, aventura, negócios, ecoturismo. Essa a chance de transformarmos nossas riquezas em oportunidade para o nosso povo. Dados recentes do Ministério do Turismo apontam que entre os brasileiros que desejam viajar nos próximos seis meses, 80,3% devem optar pelos destinos nacionais. Nosso desafio é atrair cada vez mais esse turista.

VOCÊ FALOU SOBRE A REFORMULAÇÃO DA LEI GERAL DO TURISMO. QUAIS OS AVANÇOS QUE PRETENDE TRAZER COM ESSAS MUDANÇAS?
BELTRÃO - Acredito que temos muito o que avançar, principalmente nas questões jurídicas e questões trabalhistas. Estou ouvindo todos os representantes do setor, faremos brevemente uma reunião do Conselho Nacional de Turismo e espero, até o final do ano, ter um parecer geral das mudanças que precisam ser feitas para conseguirmos avançar no fortalecimento do turismo doméstico e na atração de turistas internacionais.

FORTALECER O TURISMO INTERNO IMPLICA EM MELHORIA DAS RODOVIAS E NA AMPLIAÇÃO DA MALHA AÉREA REGIONAL. ISSO É POSSÍVEL A CURTO PRAZO?

BELTRÃO - O crescimento do interior do Brasil tem apresentado desempenho superior as áreas urbanas. De acordo com uma pesquisa recente, 38% do consumo do País está fora das capitais e regiões metropolitanas e de cada dez brasileiros da classe média, seis estão no interior. Outro dado interessante é que as famílias da classe média do interior têm renda 20% maior que as famílias de classe média das capitais, mas gastam 50% menos em passagem aérea. Isso acontece pela falta de acesso dessa parte da população aos aeroportos.
A missão do Ministério do Turismo é incentivar e facilitar as viagens, portanto nada mais correto do que apoiarmos o programa de aviação regional do governo federal. A aviação aproxima pessoas e impulsiona a economia do interior. Falando sobre rodovias, o Ministério do Turismo está investindo, em conjunto com outras pastas do Governo Federal, em obras de pavimentação, construção e reforma de rodovias em todo o País. É uma forma de conectar destinos, pessoas e tornar o Brasil um país mais acessível, mais prático e fácil de se viajar.

O QUE FAZER PARA CONTINUAR ATRAINDO TURISTAS APÓS O CICLO DE GRANDES EVENTOS - COPA DO MUNDO E OLIMPÍADAS?

BELTRÃO - Assim como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos deixaram o Turismo como grande legado para o Brasil. Mostramos que estamos prontos para receber grandes eventos e encantar nossos turistas brasileiros e estrangeiros. Fomos muito bem avaliados tanto em relação a infraestrutura turística como também em relação aos serviços e atrativos turísticos.
Agora precisamos avançar. Estou propondo um conjunto de ações para uma espécie de ofensiva para atração de turistas ao Brasil. Além da manutenção da medida de isenção de vistos para turistas, encomendei aos técnicos do Ministério do Turismo estudos a respeito da isenção do ICMS de turistas estrangeiros que pagarem suas viagens com cartão de crédito – a exemplo do que está sendo feito na Argentina com a devolução do IVA – e a instalação de tax free no Brasil. Também estamos trabalhando junto à área econômica do governo para mudar o modelo de gestão da Embratur. Desta forma, teremos uma promoção internacional mais agressiva e com possibilidade de estar presente em mais países estratégicos para o Brasil.

VOCÊ ACREDITA QUE SERÁ POSSÍVEL TORNAR PERMANENTE A MEDIDA DE ISENÇÃO DE VISTOS?

BELTRÃO - Estamos trabalhando para isso. Nossa proposta é que a medida seja estendida por dois anos. Após esse período, teremos uma noção do resultado dessa medida para avaliar se a tornamos permanente ou se faremos alguma alteração. Os resultados da medida durante os Jogos foram excelentes. Dos 156.132 estrangeiros dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália que entraram no Brasil de 1 de junho a 12 de setembro, 75% afirmaram que usaram a dispensa do visto. Ou seja, 117.099 estrangeiros desses quatro países entraram no Brasil sem vistos. Se multiplicarmos esse quantitativo pelo custo do visto (US$ 160), veremos que o Brasil deixou de arrecadar US$ 18.735.840. Por outro lado, estes estrangeiros deixaram US$ 142.102.446 na economia nacional. Nossa ideia agora é manter a isenção para as quatro nacionalidades e estender para a China. Os chineses exportam ao mundo mais de 100 milhões de turistas ao ano para o mundo e só 55 mil vêm ao Brasil.

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