Felippe Constancio   |   23/08/2016 08:43

Empresas chegam a levar 120 dias para pagar eventos

Diante de dificuldades com fluxo de caixa - ou mesmo ensejos para barganha - companhias brasileiras dispostas a sediar eventos buscam negociar prazos de pagamentos que excedem 90 dias, chegando ainda a três meses entre o apagar das luzes do encontro até a fatura.


Robert Ziegler/Flickr

O mercado de Mice brasileiro tem se mostrado oportuno a empresas que buscam melhor proveito de recursos na hora de investir em marketing. Ferramenta de negócios com retorno sobre o investimento muitas vezes maior que peças publicitárias, os eventos se mostram uma alternativa ainda melhor nos tempos de crise, quando os gastos são tomados com ainda mais cautela.

O que pode ser um tiro certeiro às empresas, no entanto, pode se mostrar um tiro no pé aos players de Mice.

Diante de dificuldades com fluxo de caixa - ou mesmo ensejos para barganha - companhias brasileiras dispostas a sediar eventos buscam negociar prazos de pagamentos que excedem 90 dias, chegando ainda a três meses entre o apagar das luzes do encontro até a fatura, revela o professor de Mice na Academia de Viagens Corporativas, Jose Marques.

"Isso aumenta muito o risco de quebradeira. Mas a indústria está se tornando refém da situação que ela mesma criou", ressalva o professor.

A tática de estender prazo de pagamento tem ocorrido disseminadamente no País nos últimos meses, com casos de uma mesma empresa internacional pagando um evento de imediato no Europa, mas estendendo o prazo quando se trata de um evento no Brasil, comenta o membro do Conselho Executivo de Viagens e Eventos Corporativos da Fecomercio e presidente da Ampro (Associação de Marketing Profissional), Wilson Ferreira.

"O que a gente aconselha é resistir a esse tipo de abordagem, pois ela prejudica a saúde das operações das próprias empresas de eventos e essa é uma situação sem lógica. Isso, aliás, é grave e precisa ser combatido", alerta o especialista. "O dinheiro no Brasil custa caríssimo. Se fosse, por exemplo, no Japão - onde os juros chegam a ser negativos -, seria razoável se a empresa tivesse um bom fluxo de caixa. Mas aqui inviabiliza o negócio e deprecia o mercado".

O executivo observa ainda que não encoraja, mas evidencia que certas empresas de eventos cobram pelo prazo, como um banco que cobrasse juros pelo empréstimo.

"Ainda por cima, fala-se muito de compliance no momento, e por isso essas empresas que agem de maneira diferenciada nos pagamentos devem se atentar com a questão do tratamento e aos conseguintes relatórios de reclamações e protestos a esse tipo de atitude", finaliza Ferreira.


Dafne Cholet/Flickr
BITRIBUTAÇÃO E LICITAÇÃO

Na esteira da prática da extensão de prazo, o mercado de Mice brasileiro convive com outros gargalos ao desenvolvimento, como bitributação e licitação

No caso da bitributação, empresas do segmento chegam a ter seu serviço encarecido em 20% por conta de tributações sobre contratações de subfornecedores feitas por elas, que, posteriormente, incidem novamente na fatura paga pelo cliente.

"Existe uma série de providências e outros modelos de pagamento pouco usados, como cobrar apenas o serviço de agenciamento e fazer com que os subfornecedores faturem diretamente com o cliente. Mas isso é improdutivo, dificulta a declaração na receita e, acima de tudo, é injusto."

Se bitributação é uma luta histórica a ser vencida pelo setor de Mice, as de licitações de contratação dos governos já têm batalhas ganhas. "Licitações que elegem vencedor pelo menor preço podem gerar distorções e injustiças, promessas não cumpridas. Nossas reivindicações são pelo melhor preço com a melhor técnica", diz Ferreira, que cita ainda outros desafios do segmento de Mice brasileiro, como a dificuldade na obtenção de alvarás e documentos que permitam realizar eventos no Brasil e a busca pelo fortalecimento da representatividade na esfera política nos três poderes.

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