Artur Luiz Andrade   |   24/06/2022 16:06   |   Atualizada em 24/06/2022 17:34

Presidente da Abracorp diz que TMCs estão mais atentas "ao que vale a pena"

Eduardo Vasconcellos, da Kontik, falou à PANROTAS com exclusividade

PANROTAS / Emerson Souza
Eduardo Vasconcellos, da Abracorp
Eduardo Vasconcellos, da Abracorp
Novo presidente do Conselho de Administração da Abracorp, Eduardo “Duda” Vasconcellos, da Kontik, analisa o retorno das viagens corporativas no pós-pandemia, e acredita que se chegará aos índices de 2019 em breve. Já há setores que estão acima dos 100% em vendas em relação ao pré-pandemia, outros um pouco abaixo, com retorno mais lento. Mas nenhum segmento, segundo o empresário, está com menos de 50% em relação a 2019.

Os setores de serviços, oil & gas e farmacêutico, por exemplo, já estão em ritmo pré-pandêmico, de acordo com Duda Vasconcellos. O financeiro é o que mais está demorando a voltar.

Confira a seguir o que mudou no mundo de viagens corporativas depois desses mais de dois anos de restrições devido à pandemia, na visão do presidente do Conselho da Abracorp e da Kontik.

PREÇOS DAS VIAGENS CORPORATIVAS

Tarifa aérea alta é uma preocupação do mercado em geral atualmente. Mas, segundo Vasconcellos, nunca foi um fator que segurasse as viagens corporativas. Quando o viajante precisa ir fazer negócios ou estar em um evento ou reunião, ele vai. Se puder se planejar com antecedência, melhor.

Segundo dados da Abracorp referentes a abril deste ano a tarifa aérea média nacional para as TMCs associadas foi de R$ 1.321. Em abril de 2019, o preço médio foi de R$ 791.

“Os preços subiram em geral, devido aos diversos fatores desse período pós-pandemia, como inflação, demanda reprimida... mas o cenário é bom, acho que as tarifas não crescem mais. O aumento da oferta vai regularizar isso”, afirma.

RELAÇÃO COM O CLIENTE

Mudou? Para Vasconcellos, mudou muito pouco essa relação. “Os clientes estão sim mais exigentes. Mas por outro lado, vemos processos voltando à normalidade de antes da pandemia, com os prazos longos (de pagamento) nas licitações”, explica. “Os SLA estão muito fortes, exigindo mais atendimento e mais investimento em tecnologia por parte das TMCs.”

E NAS TMCS?

“Os agentes de viagens estão mais atentos à produtividade, aos custos, e mais conscientes em relação ao que vale a pena ter como negócio em suas empresas. As TMCs voltaram com foco em ser mais sustentáveis. Todo mundo tem de ganhar na cadeia. E no nosso caso, de intermediação, quem não agregar valor será eliminado”, analisa Duda Vasconcellos.

DESAFIOS

Há uma grande pressão em relação à mão-de-obra e sabemos que não é um problema só do Turismo. Muitos profissionais mudaram de setor, cidade, de vida. Na Kontik, empresa que preside ao lado do irmão, Fernando, ele diz ter mais de 30 vagas abertas e não consegue preencher. A Kontik tinha 700 colaboradores antes da pandemia e hoje tem 330. Ele acha que não deve retornar àquele patamar, pois houve investimentos em tecnologia e ganhos de produtividade, mas há um gap de bons profissionais.

Ele também acredita em um modelo olho no olho, com poucos profissionais no híbrido. Por causa do modelo de negócio e também da segurança de dados dos clientes. Abrir um laptop no trabalho traz mais segurança e controle sobre os processos. Duda também não acredita na terceirização nesse setor.

Segundo apuramos, o problema de mão-de-obra deve persistir por um bom tempo, e o assédio de funcionários de concorrentes vai se tornar uma prática indigesta no mercado.

LAZER EM ALTA

“Fico feliz com esse crescimento do lazer. Os fornecedores precisam crescer se recuperar. Acho que um lado estimula o outro (lazer e corporativo), mas continuamos focados no corporativo e nos eventos, que devem voltar mais fortes”, diz o empresário.

PARCERIAS

Mas para atender a esse gap no lazer, empresas como a Kontik estão indo atrás de parcerias. No caso da empresa dos Vasconcellos, a parceria foi com a Primetour, que cuida do atendimento dos clientes vips de lazer da TMC. Deu tão certo a parceria que se estendeu para a área de eventos, como a Kontik atendendo os eventos corporativos da Prime.

DIVERSIDADE

Eduardo Vasconcellos vê a diversificação de negócios como outra tendência. Na Kontik são 10 marcas, de tecnologia a eventos, de OTA ao lazer, e mais algumas virão ainda este ano. “A gente acredita bastante no Turismo, tanto que reinvestimos nossos ganhos na empresa. O Turismo vai crescer e essa diversidade (de negócios) é importante.”

TRAVEL TECHS X TMCs?

Duda Vasconcellos começa com o discurso diplomático de qye há espaço para todos e dá para conviver com as travel techs. “Mas não dá para dizer que as TMCs são piores ou ultrapassadas. Somos prova do contrário. Dá para trabalhar com algumas travel techs inclusive. Com outras, convivemos. Mas algumas não podem ser consideradas TMCs e usam muito marketing por trás”, analisa.

A ÉTICA MUDOU NO PÓS-PANDEMIA?

“É a mesma ética de sempre. O que mudou é que tenho conversado mais com meus concorrentes, há laços mais fortes no Turismo e dá para dividir desafios”, analisa.

ABRACORP

Alçado ao posto de presidente do Conselho da Abracorp na última eleição, Duda Vasconcellos disse que não esperava ou queria, mas a situação na entidade levou a esse quadro. Os objetivos imediatos são rever o plano estratégico, seguir os investimentos em BI da gestão passada, de Rubens Schwartzmann, e tentar uma proximidade maior com os clientes corporativos, e não apenas com os fornecedores, como tem sido até aqui na associação.

O estilo Duda Vasconcellos está on. Que venham mais novidades e que as viagens corporativas e seus eventos e incentivos retornam a todo seu potencial.

Essa entrevista saiu originalmente na Revista PANROTAS Especial para o Fórum PANROTAS 2022. Leia abaixo.

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