PANROTAS / Emerson Souza

A tarde do Abav MeetingSP seguiu com um debate profundo sobre "O luxo no inusitado: de hotelaria e barco na Amazônia a frotas exclusivas pelo mundo", reunindo Danielle Coltro, da Coltro Viagens, Martin Frankemberg, da Matueté, Thiago Vasconcelos, da Pier 1, e Ruy Carlos Tone, da Presspod.

O painel trouxe reflexões sobre o novo perfil do viajante de alto padrão e sobre como o conceito de luxo vem se transformando - deixando de ser apenas sinônimo de marcas e conforto material para assumir um caráter mais subjetivo, emocional e ligado à autenticidade das experiências.

O debate começou pela tentativa de definir o que é luxo hoje. Os palestrantes lembraram que, embora ainda existam produtos considerados "clássicos" - hotéis renomados, destinos icônicos, serviços impecáveis - o segmento vem migrando cada vez mais para experiências raras, exclusivas e, muitas vezes, desconectadas do tradicional.

Como destacou Frankemberg, o luxo permanece associado ao que é raro, mas a percepção do que é raro muda de pessoa para pessoa: para alguns, pode ser um resort cinco estrelas; para outros, dias tranquilos com a família em um lugar remoto, sem sinal de celular. Ele citou exemplos de produtos que comercializa e que rompem com o modelo clássico: experiências imersivas em locais onde "não há hotel, não há restaurante, não há sequer talheres", mas que ainda assim (ou por isso) são valorizadas - e caras - pela dificuldade de acesso e por tudo que envolvem, como a preservação do território e da cultura local.

Nesse ponto, Tone reforçou que o mercado de luxo baseado em experiência depende muito mais das pessoas do que de estruturas materiais. A emoção, o significado e o impacto vivido no destino são elementos impossíveis de capturar em uma foto ou vídeo, o que torna o papel da agência ainda mais essencial. Para ele, o agente de viagens é parte vital de um mercado em que a sensação é mais importante que o cenário: "o luxo hoje, se é experiência, depende das pessoas - e a agência tem um papel fundamental nesse mercado", afirmou.

Thiago Vasconcelos complementou ao dizer que, no contexto atual, o papel da agência é ser um guia. Diante de um viajante bombardeado por imagens e desejos fabricados nas redes sociais, o agente se torna a fonte mais segura e confiável de curadoria. "A única maneira de ter acesso a informação confiável é através da agência. Ser um guia para o viajante sempre foi nosso papel, e no luxo isso é ainda mais evidente", destacou. Ele lembrou que, assim como ocorreu no mercado financeiro com a digitalização dos investimentos, a tecnologia não substituiu o especialista — ao contrário, o fortaleceu.

Ao longo da conversa, todos concordaram que, no "luxo do inusitado", o conhecimento técnico e vivencial da agência é determinante. Diferente do luxo clássico, em que as grandes marcas e redes hoteleiras já garantem previsibilidade, o luxo baseado em imersão requer do agente uma dedicação maior: entender profundamente o destino, vivenciar experiências, saber orientar o cliente sobre desconexão, acessos difíceis e expectativas reais. É justamente isso que cria, segundo Martin, uma “reserva de mercado” para os agentes que se especializam nesse segmento.

O painel foi encerrado com destaque para o luxo contemporâneo e plural, mutável e profundamente humano. E, nesse cenário, o agente de viagens se consolida como peça-chave — não apenas vendendo produtos, mas traduzindo sensações e guiando o viajante rumo ao extraordinário.