Sem turbulências: Azul detalha próximos passos do Chapter 11 e agradece apoio do trade
Previsão da Azul é encerrar reestruturação cerca de 90 dias após confirmação do processo, em março de 2026

A Azul Linhas Aéreas apresentou, nesta sexta-feira (30), em coletiva de imprensa, as próximas etapas do seu plano de reestruturação financeira através do Chapter 11, após a primeira audiência realizada nessa quinta-feira (29), na Corte dos Estados Unidos. O processo tem como objetivo permitir a reestruturação da dívida da companhia, que já entrou no processo com saída planejada e acordada com todos os principais credores.
A companhia espera realizar sua audiência de confirmação do processo de recuperação judicial no dia 28 de dezembro deste ano. Com isso, a previsão da Azul é encerrar sua reestruturação cerca de 90 dias após essa etapa, em março de 2026, ou seja, menos de um ano após a sua entrada.
Fabio Campos, vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul Linhas Aéreas, logo de início reforçou que a decisão do Chapter 11 foi estratégica, negociada de forma amigável com credores e parceiros, e não decorre de colapso financeiro. “Não entramos no Chapter 11 por necessidade, mas como uma forma estruturada de formalizar acordos já costurados com credores, arrendadores e parceiros estratégicos”, explicou Campos.
Ontem houve a primeira audiência na Corte dos Estados Unidos. No chamado “primeiro dia”, a Azul apresentou à Corte americana uma série de pedidos iniciais com foco em garantir o funcionamento básico da empresa e proteger seus ativos. Esses pedidos foram aprovados de forma interina porque eram de curtíssimo prazo. Uma segunda audiência já está marcada para o dia 9 de julho, quando temas mais amplos serão debatidos.

A expectativa da companhia é de que o processo evolua com celeridade, dentro da lógica de negociações contínuas com credores e arrendadores. O ponto positivo, segundo Fabio Campos, é que todos os pedidos foram todos aprovados pela Justiça americana, sem objeções.
“Essas audiências são momentos formais, mas o processo é dinâmico e as negociações são constantes. Podemos apresentar pedidos e fechamentos de acordos com lessores a qualquer momento. Tudo será homologado pela Corte quando as partes estiverem de acordo”, disse Fabio Campos.
Ele lembra nada vai mudar para os clientes da companhia durante o processo. “Quem comprou, vai voar. Quem tem pontos no programa de fidelidade, vai usar. Seguimos operando normalmente, vendendo passagens, com todos os nossos serviços ativos”, reforçou o VP Institucional e Corporativo da Azul.
Azul agradece apoio de agentes de viagens e operadores
Neste momento, não há qualquer impacto para os clientes, para os tripulantes e nem para o trade, como já dito por Fabio, com operações normais e em contato ativo com nossos parceiros comerciais. Fabio agradeceu ao trade pelo apoio contínuo e pela confiança em nome da Azul Linhas Aéreas.
"Esse respaldo é fundamental para que possamos seguir fortalecendo nossa operação e nossos relacionamentos E nosso compromisso com o trade permanece firme. Continuaremos trabalhando juntos como sempre fizemos, mas com um desejo ainda maior de nos aproximarmos, conversar mais e explorar novas possibilidades em nossas parcerias. Queremos construir caminhos que tragam benefícios para ambos os lados Contem conosco!"
Fabio Campos, vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul Linhas Aéreas
Como vimos no Portal PANROTAS, o elo mais importante da cadeia, que são os consolidadores, demonstraram apoio e disseram estar ao lado da companhia brasileira durante o processo, em reportagem exclusiva. Falamos com Ancoradouro, BRT, Confiança, Flytour, Rextur Advance, Sakura.
Os próximos passos do Chapter 11
A segunda audiência, conhecida no processo do Chapter 11 como o “segundo dia”, está marcada para 9 de julho e dá continuidade ao rito iniciado na Corte dos EUA. Apesar disso, o processo não exige audiências mandatórias em todas as fases: os encontros com a Corte ocorrem conforme a necessidade de homologação de avanços ou solicitações específicas da companhia.
A primeira audiência, realizada em 29 de maio, teve caráter introdutório: nela, a Azul apresentou ao juiz como a sua operação, quais acordos já foram firmados com credores e arrendadores, além de realizar os chamados pedidos de “primeiro dia”, essenciais para garantir a continuidade das operações durante a reestruturação. Foi apresentado ainda um plano preliminar de saída do Chapter 11, com as etapas e previsões do processo.
"A audiência de confirmação do plano de reestruturação, prevista para o fim do ano, será a última grande etapa do processo. Nela, o plano já apresentado deverá ser votado pelos credores e, se aprovado, homologado pelo juiz. A expectativa é que, após essa etapa, os passos complementares ocorram já no início de 2026"
Fabio Campos, vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul Linhas Aéreas
Redução da frota não será de 35%

Diferentemente do que sugerem rumores sobre uma grande redução de frota, a Azul esclareceu que não haverá um corte de 35% das aeronaves em operação. A confusão, segundo Fábio Campos, partiu de leitura equivocada sobre projeções futuras da companhia em relação aos seus próximos cinco anos.
“Muitas dessas aeronaves que aparecem na conta já estavam fora de operação ou ainda nem tinham sido incorporadas. Estamos renegociando contratos e adequando o plano de frota para tornar o negócio mais eficiente e sustentável”, detalhou.
“Nosso objetivo é otimizar a frota e voar com as aeronaves mais modernas, devolvendo modelos de geração antiga e mantendo os Embraer E2, que são mais eficientes. Temos novas aeronaves chegando ainda neste ano. O plano contempla um aporte total de US$ 1,6 bilhão em capital, que será parcialmente usado para comprar dívida existente e também para financiar a companhia ao longo do processo”
Fabio Campos, vice-presidente Institucional e Corporativo da Azul
A empresa confirmou que, como parte do processo, pediu autorização judicial para rejeitar contratos de novos aviões, o que é considerado normal, bem como aposentar aeronaves mais antigas, como alguns Embraer 195 E1 que já não estavam voando devido à escassez de peças na cadeia de suprimentos.
Azul critica falta de financiamento para o setor

A companhia também reforçou a importância da ausência de mecanismos de financiamento estruturado no setor aéreo brasileiro como um dos motivadores para buscar o Chapter 11. Segundo Fábio, a ausência de apoio estruturado, somada ao ambiente macroeconômico e à necessidade de ajustes de frota, tornaram o Chapter 11 uma solução viável para a reestruturação financeira da companhia.
“Diferente de setores como agronegócio ou construção civil, nosso setor não conta com linhas de financiamento perenes. A aprovação da FNAC pelo Congresso, em 2024, foi um marco, mas na prática não se materializou. O dinheiro não chegou e não houve garantias de nenhum fundo público”, afirmou Campos.
Fusão com a Gol e parceria com American e United

Outro destaque do processo é o apoio declarado das norte-americanas United Airlines e American Airlines. A United, que já é parceira comercial e acionista da Azul desde 2014, deve ampliar sua participação na empresa. Já a American, que até então não mantinha relação direta com a companhia brasileira, assinou um termo de apoio ao processo de reestruturação e irá se tornar acionista da Azul ao final do Chapter 11.
A expectativa é de que ambas as aéreas invistam entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões em participação acionária, num movimento que amplia a presença internacional da Azul e reforça seu acesso a conhecimento técnico, intercâmbio profissional e sinergias operacionais.
Sobre a fusão com a Gol (Grupo Abra), Campos foi direto: “Nosso foco está 100% voltado para a reestruturação da Azul. Acreditamos na construção de valor de forma independente. Estamos trabalhando com disciplina e estratégia", disse Fabio.