Artur Luiz Andrade   |   13/04/2020 22:15
Atualizada em 14/04/2020 19:24

Covid-19 impacta 25% das vendas de operadoras Braztoa: R$ 3,9 bilhões

Cancelamentos e adiamentos de viagens somaram cerca de R$ 3,9 bi para as operadoras Braztoa com a crise


Marluce Balbino
Roberto Nedelciu, presidente do Conselho, e Monica Samia, presidente executiva da Braztoa
Roberto Nedelciu, presidente do Conselho, e Monica Samia, presidente executiva da Braztoa

A Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) divulgou nesta segunda-feira, 13, pesquisa realizada com seus associados para medir o impacto da crise causada pela pandemia de covid-19, que paralisou viagens em todo o mundo, inclusive dentro do Brasil e de/para o País. Em termos financeiros, os cancelamentos e adiamentos de viagens somaram cerca de R$ 3,9 bilhões, ou seja, 25% do faturamento de 2019 das operadoras Braztoa, sendo R$ 3,5 bilhões no primeiro semestre, R$ 350 milhões no segundo semestre e R$ 50 milhões em 2021, números que podem aumentar caso se prolongue a crise gerada pela pandemia. E que não contemplam quem não deixou de viajar.

As operadoras Braztoa acreditam em forte queda nas vendas no balanço final de 2020: na pesquisa, 91% das empresas não preveem vendas no mês de abril. Apenas 12% dos associados acreditam que haverá retomada até o mês de julho, 36% apostam no segundo semestre, 43% apontam que o setor voltará ao normal apenas em 2021 e 9% dos entrevistados não conseguem ainda prever a retomada dos negócios.

Dentro disso, 41% das empresas esperam um faturamento até 50% menor em 2020 (em relação a 2019), 39% esperam uma queda entre 50% e 75% e 20% uma queda maior que 75%.


INÍCIO EM MARÇO
Com a crise iniciada na Ásia e se espalhando rapidamente pela Europa e Américas, as vendas das operadoras Braztoa despencaram já em março: 45% das empresas pesquisadas não realizaram nenhuma venda no terceiro mês do ano. Outras 45% afirmaram que as vendas em março representaram, no máximo, 10% do movimento registrado no mesmo mês de 2019. “Esses números refletem as atividades das primeiras duas semanas de março quando o mercado, apesar do bloqueio de vendas para alguns destinos internacionais, ainda se mantinha em funcionamento”, avalia a entidade.

Entre as vendas realizadas, cerca de 70% são para embarque no segundo semestre de 2020, ou seja, cancelamentos e adiamentos poderão impactar essas transações, pois o cenário é de incerteza em relação a quando restrições de viagens cairão no Brasil e no mundo.

CANCELAMENTOS
Segundo dados do levantamento Braztoa, cancelamentos afetaram 98% das empresas: 32% registraram até 30% de cancelamentos, 13% entre 30% e 50%, e 17% das empresas constataram entre 50% e 75% de cancelamentos. E para mais de um terço dessas empresas (36%), o maior grupo de operadoras, os pedidos de cancelamentos chegaram entre 75% e 100%, representando números altíssimos na avaliação da entidade.

Das viagens já canceladas, pouco mais de um terço dos clientes já recebeu o reembolso à vista, mostrando que nem todas as operadoras puderam aguardar a publicação da MP 948, a MP do Consumo, que permite o reembolso em até 12 meses após o fim do estado de calamidade pública e que incentiva outras opções, como a remarcação ou a criação de um crédito.

Entre os demais pedidos de cancelamento, 43% vão receber dentro do período de carência para reembolso, 11% optaram por carta de crédito e cerca de 10% dividem-se em recebimento de forma parcelada ou negociada. Vale ressaltar que 96% dessas operações tiveram acordos amigáveis entre clientes e operadoras, sem o envolvimento de órgãos como o Procon e Senacon, ou mesmo a justiça. Segundo a Braztoa, isso demonstra “uma maior maturidade nas relações comerciais, pautadas pela boa-fé e bom-senso de ambas as partes”.

ADIAMENTOS
Sobre o adiamento das viagens, três quartos das empresas estão com adiamento superior a 50% (37% relatam que administram em torno de 50% a 75% de prorrogações, 28% entre 75% e 90% e outros 11% entre 90% e 100%). O restante, em torno de 24%, registra adiamentos inferiores a 50% das vendas comercializadas antes da pandemia.

Considerando os cancelamentos e adiamentos juntos, os impactos registrados até o final de março foram: 90,4% dos embarques de março, 96,2% dos embarques de abril, 94,2% dos embarques de maio E 63,5% dos embarques de junho. A Braztoa acredita que haja uma tendência de normalização a partir de agosto, com os cancelamentos se estendendo, no entanto: atingem 26,9% dos embarques previstos para o segundo semestre de 2020 e 3,8% de embarques para 2021.

IMPACTO ECONÔMICO
Além do impacto de cerca de R$ 3,9 bilhões, ou seja, 25% do faturamento de 2019 das operadoras Braztoa, a crise também criou questões com alguns fornecedores, especialmente internacionais.

A pesquisa também mostra que há uma compreensão dos fornecedores nacionais: 59% das operadoras apontam que têm conseguido negociações de alternativas ao reembolso, 18% obtiveram reembolsos integrais, 18% indicaram que seus reembolsos tiveram restrições e apenas pouco mais de 3% cobraram os valores integrais das viagens, sem reembolso.

“Levando em consideração que as operadoras atuam como intermediadoras na relação dos fornecedores com os clientes, a boa relação destas com a cadeia produtiva é fundamental para a gestão da crise”, continua a associação em sua avaliação da pesquisa.

Já entre os fornecedores internacionais, que não estão vinculados às regras brasileiras, a pesquisa aponta que 40% estão oferecendo alternativas ao reembolso, pouco mais de 32% reembolso com restrições, 16% estão efetuando reembolso integral, e cerca de 12% estão cobrando integralmente os valores – ou seja, se valendo de cláusulas de não reembolso.

“Esse cenário traz uma grande preocupação para as operadoras que se veem diante do desafio de ter que fazer frente a casos de reembolso sem ter tido a devolução dos valores pagos aos fornecedores sediados em outros países”, diz a Braztoa. E no caso de fornecedores internacionais a negociação fica bem mais complicada e demorada.

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REDUÇÃO DE CUSTOS
Para conter a crise e o período de receita zero que estamos vivendo, 98% das operadoras já reduziram seus custos operacionais: 17% delas em até 25%, 61% entre 25% e 50%, 20% entre 50% e 75% e apenas 2% acima de 75%.

Do total pesquisado, 28% dessas empresas encerraram contratos, 28% suspenderam por tempo determinado, e mais de 30% dessas operadoras suspenderam por tempo indeterminado. Quase 75% renegociaram valores e apenas cerca de 6% ainda não praticaram alterações com empresas terceirizadas.

Para 43% das operadoras, os impactos da redução de custos atingiram acima de dez empresas terceirizadas. Para 57%, entre uma e dez empresas foram impactadas pelas reduções, suspensões e cancelamentos de contratos.

EMPREGOS
A pesquisa mostra que, apesar da queda de faturamento, há um esforço das operadoras em manter os seus colaboradores. Entre 29/02 e 31/03, houve um corte de 10% de funcionários. Quando questionadas sobre o mês de abril, 55% das operadoras não pretendem fazer demissões, 9% pretendem reduzir até 10% do seu quadro de funcionários, 17% vão reduzir até 25%, 15% vão reduzir até 50% e apenas 4% pretendem fazer até 75% de demissões.

Para não demitir, 78% das empresas promoveram reduções de carga horária e salários, 74% deram férias a seus colaboradores, 22% promoveram licenças remuneradas e 20% suspenderam contratos temporariamente.

BRASIL PRIMEIRO
Ainda em relação ao momento de retomada dos negócios, no que se refere aos destinos, 72% das operadoras acreditam que o Brasil estará no topo das procuras, seguido da América do Sul, com 15% das indicações e Oriente Médio com 5%. As regiões da América do Norte, Europa, América Central e Caribe, Ásia e Oceania seguem no final da lista com 2% das indicações.

“Esses números podem indicar que a retomada do Turismo, no segundo semestre, deve se iniciar por viagens domésticas mais acessíveis financeiramente e que transmitam maior segurança sanitária para os viajantes”, avalia a Braztoa.

DESAFIOS À FRENTE
Os desafios são diversos, mas alguns ganham destaque segundo a associação e operadoras, como a preocupação em relação à falta de demanda por motivos financeiros, mencionada por 75% dos entrevistados. Essa preocupação está ligada diretamente à crise econômica, que trouxe como consequência, entre muitas coisas, o desemprego e as reduções salariais, que podem fazer com que as viagens deixem de ser uma prioridade em um primeiro momento.

Para 41% das operadoras, a ausência de recursos financeiros para ações de marketing e promoção também se configura como um grande desafio. Já para 16% dessas empresas, o ponto de atenção está na falta de recursos humanos para retomar as atividades.

Outras apreensões estão ligadas à saúde, como a possível falta de demanda por insegurança sanitária, apontada por 66% das empresas, e as condições inadequadas nos destinos para receber turistas, mencionada por 41% das operadoras.

Questões relacionadas à falta de oferta de produtos e serviços por parte dos fornecedores são um grande desafio para quase 30% dos respondentes e a ausência de produtos pelo agenciamento preocupa pouco menos de 20%.

AÇÕES CONTRA A CRISE
Sobre ações adotadas pelo governo, 50% entendem que terão algum tipo de benefício, mas apenas 22% sabem como utilizá-lo a seu favor. Outros 39% não têm clareza se terão ou não benefícios referentes às medidas, número que mostra a necessidade de uma comunicação mais eficaz sobre a aplicabilidade dessas ações governamentais. Apenas 11% não enxergam nenhum benefício para as suas empresas.

Por outro lado, 93% das operadoras têm total ciência das ações de flexibilização adotadas pelo Senacon e Procon-SP referentes aos cancelamentos e adiamentos de viagem. Para o mesmo número de empresas, campanhas como “Adie! Não Cancele”, são benéficas.

Em 2019, as operadoras associadas à Braztoa faturaram R$ 15,1 bilhões e embarcaram 6,5 milhões de passageiros durante todo o ano. Essas mesmas empresas geraram um impacto econômico de R$ 14,9 bilhões para a economia nacional, neste mesmo período (quantia que contempla a soma do valor dos pacotes comercializados para destinos nacionais, com o gasto médio diário com extras do turista nos destinos).

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é editor-chefe da PANROTAS, jornalista formado pela UFRJ e especializado em Turismo há mais de 30 anos.