Renato Machado   |   05/03/2020 09:03   |   Atualizada em 05/03/2020 11:53

A Antártica do meu imaginário e a Antártica real - parte 3

Ao longo dos próximos dias, relato com detalhes a experiência - do planejamento às descobertas

Renato Machado
Passageiros realizam caminhada em Brown Bluff rumo ao topo de uma geleira
Passageiros realizam caminhada em Brown Bluff rumo ao topo de uma geleira
ANTÁRTICA — Seguimos nossa expedição marítima pelo continente gelado, com a Ponant e toda sua expertise na região e nesse tipo de produto.

O nosso imaginário tem um poder enorme sobre nós. Eu nunca havia me deparado com um iceberg, mas, se me pedissem uma descrição, eu não teria dificuldades em desenhar a minha versão de um imenso e flutuante bloco de gelo. Essa ideia chega a beirar a prepotência ao pensar em retrospecto. Eu achava que sabia o que era um iceberg (tolo). Eu também achava que o branco era um só (tolo novamente).

Dois dias adentro da península antártica e tudo era um grande aprendizado. Ajudava ter a presença de especialistas a bordo do navio Le Soléal, da Ponant, que com todo seu conhecimento apontavam para onde o meu olhar de recém-nascido deveria fitar. Tudo era novo e eu não conseguia distinguir formatos, calcular tamanhos, medir distâncias. O primeiro grande bloco de gelo em alto mar já havia navegado ao nosso lado no dia anterior, mas no início da noite, num susto, encontro breve.

Na manhã seguinte tomávamos o zodiac (aqueles barcos de transporte do navio para a terra) uma vez mais, agora para caminhar pela encosta de Brown Bluff. Visto do navio, o branco salpicado nas formações de um marrom intenso tentava me apresentar o que era Antártica e como ela se alterava entre as suas estações. A temporada turística só existe nos meses mais quentes do ano, entre novembro e fevereiro. Então fazia sentido imaginar que, em pouco tempo, tudo o que eu via seria tomado por neve - depois o glaciologista a bordo me explicaria (obrigado, Julien) que, na verdade, no inverno iria além: neve por todas as montanhas, sim, mas também o mar seria tomado por grossas placas de gelo impenetráveis para qualquer embarcação.

Renato Machado
Os meios que o gelo derretido pelo calor do verão encontra para descer até o mar
Os meios que o gelo derretido pelo calor do verão encontra para descer até o mar
PRIVILÉGIO

A recepção em Brown Bluff ficou outra vez a cargo dos pinguins — dessa vez, além de gentoos, eu conhecia outra espécies, os adélia e os barbicha. Diferentemente de Elephant Point, aqui o grupo faria pequenas caminhadas guiadas em uma subida rumo ao topo de uma geleira. E aí estava a novidade para os meus olhos, o gelo. Que tomava a praia em blocos perdidos. Que se derramava por toda uma elevação, tão duro quanto as rochas sobre as quais deitava.

Subindo a geleira cruzei caminho com um curso de água apressado, descendo com força por um canal talhado no gelo duro. Parei para ouvir a água sacolejar geleira abaixo. O som era tão cristalino quanto a própria água e foi ali que eu tive o primeiro de inúmeros momentos em que eu me sentia muito privilegiado em testemunhar tudo o que via e ouvia. Eu não sei o futuro da Antártida, não tenho ideia de como irá se desenvolver o Turismo na região. Mas, hoje, são poucos os que podem estar ali e, por acaso, dessa vez era eu por lá. Ouvi aquela água uma vez mais. Tirei uma foto para aqui relatar.

Na tarde, o segundo desembarque nos deixou em Paulet Island, residência forçada para 20 expedicionários suecos em 1903. Náufragos após dois anos de explorações no continente, os europeus construíram um abrigo e viveram na ilha por nove meses à base de ovos de pássaro e carne de pinguim, à espera de resgate, que chegou a tempo. Pouco mais de 100 anos depois, a história dos desbravadores era repetida em frente às ruínas do abrigo improvisado. A ironia restava no meu tempo de estada na ilha: 60 minutos (com direito a chocolate quente quando retornasse ao Le Soléal).

Fique ligado nos próximos dias no Portal PANROTAS para acompanhar a jornada completa a bordo do Le Soléal e viaje com a gente em uma expedição de luxo, aventura e experiências para toda a vida. E na semana que vem, na revista PANROTAS, um mergulho mais profundo no produto "expedição marítima", uma das especialidades da Ponant e da Qualitours.

Veja mais fotos no álbum abaixo

O Portal PANROTAS viajou a convite da Qualitours e da Ponant

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