Renato Machado   |   04/03/2020 09:02

De Soléal a Elephant Point, os primeiros passos na Antártica - parte 2

Ao longo dos próximos dias, relato com detalhes a experiência - do planejamento às descobertas

Renato Machado
Raros de serem encontrados em praias antárticas, os elefantes marinhos dominam Elephant Point
Raros de serem encontrados em praias antárticas, os elefantes marinhos dominam Elephant Point
ANTÁRTICA - A bordo do Le Soléal, navio expedicionário da Ponant, eu estava a caminho da Antártica. As primeiras 36 horas de mar eram passado, havíamos vencido o temido Drake e, pouco a pouco, nos aproximávamos de algo totalmente genérico: a Península Antártica. Porque a Antártica é algo bem genérico, não é? Até então o continente para mim era um pedaço enorme de terra coberto de gelo, morada de animais diversos, frequentado por cientistas e visitado por um punhado de países que ali instalaram bases militares e de pesquisa.

É isso sim, mas é também mais. Um Drake generoso nos soprou ventos a popa e entregou o Soléal às primeiras ilhas antárticas antes do programado. Entre balanços e sorrisos amarelos, a tripulação havia aproveitado a Passagem de Drake para preparar os cruzeiristas para as expedições. Caminhar na Antártica não é exatamente um passeio pelo parque. Era preciso nos inteirar sobre as estritas regras de visitação da região (controladas pela IAATO, Associação Internacional das Operadoras de Turismo Antártico), depois distribuir o equipamento: galochas de borracha, dessas de loja de material de construção, e a parka, um grosso casaco vermelho que me transportava diretamente para aqueles documentários sobre lugares remotos com climas extremos. Tudo é explicado, ensinado e detalhado nessas conversas a bordo, enquanto desfrutamos do luxo da gastronomia e dos ambientes do navio.

QUEM MANDA

Em poucas horas desembarcaríamos em um bote militar rumo ao primeiro destino antártico. A parada inusitada foi uma primeira prova de que quem desenha um cruzeiro pela Antártica não é o capitão, nem a armadora. As datas de embarque e desembarque serão respeitadas, os portos de partida e chegada são sabidos. As paradas em ilhotas, praias e geleiras, no entanto, serão definidas única e exclusivamente pela vontade do intempestivo clima local. Na Antártica o tempo é rei e quis ele que visitássemos Elephant Point, um refúgio de elefantes marinhos em Livingston, nas Ilhas Shetland do Sul.

Da proa no deck 2, um a um os passageiros eram colocados em Zodiacs, o bote inflável que realiza os traslados entre navio e costa. Oito passageiros por barco e em dez minutos meus pés tocavam os primeiros pedregulhos que formam as praias na Antártica. A recepção não poderia ser mais caricata: um dúzia, ou duas ou três, de pinguins saltitavam desengonçados entre curiosos e prevenidos. De cara descobri o quão intenso e barulhento pode ser o vento na Antártica e aprendi que há muito mais do que gelo na região. Os tons de marrom levemente salpicados de um verde tímido eram a prova de que a imagem da Antártica que eu carregava no meu imaginário era ridiculamente pobre.

Eu teria 60 minutos para caminhar por uma zona pré-determinada pelos especialistas da Ponant. Caminhar, tirar fotos, admirar, mexer as mãos que congelam porque esqueci minhas luvas, tirar fotos, admirar. Era tempo suficiente. Para assistir à comédia chapliniana que os pinguins promovem cada vez que correm. Para observar a disputa de espaço entre elefantes marinhos, com direito a urros, olhares intensos e coçadas de nadadeira.

LEIA AQUI A PARTE 1 DE NOSSA SÉRIE

Aquele tempo-rei que eu mencionei há pouco reforçava sua majestade e nos mandava embora. O vento se rebelou a um ponto em que tornou o mar uma incógnita. Entre desembarcar novos passageiros e tirar aqueles que já estavam na ilha, os especialistas da Ponant escolheram a segunda opção. A segurança era prioridade e alguns hóspedes não conseguiram visitar Elephant Point. Caras feias não foram evitadas, mas foi a Antártica que preferiu assim, vai questionar? Mais adiante, haveria muitas compensações. E expedição é assim mesmo: preparo, planejamento, conhecimento, expertise... e sorte.

Fique ligado nos próximos dias no Portal PANROTAS para acompanhar a jornada completa a bordo do Le Soléal e viaje com a gente em uma expedição de luxo, aventura e experiências para toda a vida.

Veja mais fotos no álbum abaixo

O Portal PANROTAS viajou a convite da Qualitours e da Ponant

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