Marcel Buono   |   04/03/2020 15:18   |   Atualizada em 04/03/2020 18:10

Governo avança para liberar cruzeiros em Fernando de Noronha

Gilson Machado Neto e Flávio Bolsonaro publicaram vídeo reforçando intenções de ampliar exploração na ilha

O governo segue empenhado em liberar cruzeiros com destino a Fernando de Noronha. Nesta terça-feira (3), o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, e o senador Flávio Bolsonaro publicaram um vídeo afirmando que o arquipélago poderá receber embarcações com 600 passageiros ou mais. A instalação de recifes artificiais também faz parte dos planos.

Divulgação
Gilson Machado Neto (presidente da Embratur) e Flávio Bolsonaro (senador sem partido do Rio de Janeiro)
Gilson Machado Neto (presidente da Embratur) e Flávio Bolsonaro (senador sem partido do Rio de Janeiro)
“Estamos desatando os nós da legislação para que esses segmentos (recifes artificiais e cruzeiros) sejam muito melhor explorados pelo nosso País”, disse o senador, que é filho do presidente Jair Bolsonaro.

“Fernando de Noronha é um dos lugares com mais vocação no mundo para mergulhos de contemplação e acabamos de aprovar junto à Marinha mais 12 pontos novos de naufrágios para agregar ao Turismo de Noronha, como também estamos destravando a volta de cruzeiros marítimos no destino”, completou Gilson Machado.

Atualmente, embarcações precisam de uma autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para ancorarem no arquipélago, sendo que a capacidade máxima permitida é de 150 a 200 passageiros. Caso o plano do governo siga em frente, a perspectiva é que navios com 600 passageiros ou mais possam desembarcar no local.

REAÇÃO PERNAMBUCANA
Responsável pelo território do arquipélago, Pernambuco já se posicionou contra a intenção do governo. Em 2018, Fernando de Noronha recebeu 103 mil visitantes, ultrapassando o valor máximo suportado pela região, que é de 89 mil visitantes por ano, de acordo com estudos relacionados à preservação ambiental.

“A informação de que o governo federal vai autorizar a entrada de cruzeiros marítimos em Fernando de Noronha deixa mais uma vez evidente a maneira como a União lida com o meio ambiente. As referidas autoridades desconhecem a existência da limitação do número de visitantes e as consequências de colocar na ilha mais de 600 pessoas de uma só vez, como acontece no caso dos navios de cruzeiro”, declarou o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, José Bertotti.

Wikicommons/Eduardo Muruci
Fernando de Noronha fica a cerca de 550 quilômetros de Recife
Fernando de Noronha fica a cerca de 550 quilômetros de Recife
“As 21 ilhas do arquipélago abrigam uma biodiversidade única e não podem ser alvo do modelo de Turismo predatório sugerido no vídeo publicado pelo senador Flávio Bolsonaro e pelo presidente da Embratur, Gilson Machado. Fica claro como os representantes do governo federal se ocupam muito mais em querer impor um tipo de visitação que não respeita a natureza do que focalizar sua energia em iniciativas que respeitam o meio ambiente ou que ofereçam melhores condições de vida aos moradores do arquipélago”, concluiu Bertotti.

Em julho do ano passado, Jair Bolsonaro já havia demonstrado interesse em ampliar a exploração turística de Fernando de Noronha. Na ocasião, o presidente da República afirmou que o valor das taxas cobradas para visitação é “um roubo”. Atualmente, o turista brasileiro paga R$ 106 para entrar no local, enquanto estrangeiros desembolsam R$ 212.

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