Turismo avança, mas carece de dados e integração: veja insights do evento da Alagev
Guilherme Dietze e Mariana Aldrigui aguçaram participantes com informações do setor e da economia nacional

Durante o último encontro do ano da Alagev com seus mantenedores, o presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze, apresentou os principais pontos do cenário econômico brasileiro e os desafios que deveremos enfrentar no próximo ano.
Conforme apresentado pelo economista, o Turismo brasileiro está na contramão da economia, apresentando números recordes:
- De janeiro a outubro de 2025, foram transportados cerca de 106 milhões de passageiros;
- 61% de ocupação hoteleira entre janeiro e setembro;
- Diária média dos hotéis alcançou R$ 420;
- Empresas brasileiras investiram R$ 106,5 bilhões em deslocamentos profissionais.
"Apesar do aumento do preço das passagens, o Turismo, em geral, registrou o maior volume da série histórica. Enquanto a economia nacional está fraca, o setor está muito fortalecido. Esperamos encerrar 2025 com um crescimento de 6,5% nas viagens corporativas e, ano que vem, o faturamento deve chegar a R$ 153 bilhões",
Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
Dietze explica que, apesar do Brasil ter registrado a menor taxa de desemprego da série histórica (5,4%), a previsão é que a economia nacional cresça apenas 1,8%, nível abaixo do previsto para a economia mundial (3,2%). Para 2026, o economista relembra que enfrentaremos desafios como: dívida pública brasileira em torno de 80% do PIB, reforma tributária, eleição presidencial e taxa de juros a 15% ao ano.
Turismo ainda não é prioridade para países

Mariana Aldrigui, pesquisadora na área de Turismo, instigou os participantes do Café com Conselho da Alagev demonstrando que o Turismo ainda carece de bases de dados consistentes, narrativas públicas claras, mobilização multisetorial e presença junto aos formuladores de políticas orçamentárias.
"O Turismo não é indutor de desenvolvimento. Países que dependem 100% do Turismo, como a Jamaica, por exemplo, não são países desenvolvidos. O Turismo não é prioridade política em nenhum país. O setor ainda é visto como supérfluo, relacionado apenas à festa e diversão",
Mariana Aldrigui, pesquisadora de Turismo na USP.
Mariana ainda recordou que o setor não dispõe de métricas, não mede o impacto de ações públicas e privadas, ainda enfrenta falta de dados confiáveis e contínuos, além de ter baixa continuidade institucional.
"Tivemos péssimos Ministros do Turismo ao longo da história e, ainda assim, não importa quem seja o Ministro, ele será aplaudido, mesmo que fale apenas obviedades. O Voa Brasil, por exemplo, vendeu pouquíssimas passagens desde o lançamento e não engata, mas segue sem receber críticas. No Brasil, não existe oposição na área do Turismo. O Turismo brasileiro não falha por falta de potencial, falha por falta de quem o defenda com método, dados e propósito", reforçou a pesquisadora.
Turismo e política
Mariana Aldrigui também destacou ainda a ausência de integração do Turismo com pastas estratégicas, como Fazenda, Transportes, Planejamento, Segurança, Meio Ambiente e Educação. Ela lembrou ainda que a imagem e a ideologia que um país projeta ao mundo têm impacto direto nos seus números de Turismo, influenciando a decisão dos viajantes.
"Os Estados Unidos serão, provavelmente, o único país do mundo a registrar números negativos no Turismo e isso não está ligado ao setor em si. Cada vez mais canadenses têm evitado viajar para o país, enquanto o governo norte-americano se vê obrigado a flexibilizar políticas de vistos e ajustar rotas para conter a queda no fluxo de visitantes", explicou a professora.