Rodrigo Vieira   |   05/11/2020 08:30
Atualizada em 05/11/2020 22:22

Prejuízo milionário: agentes buscam esfera criminal contra a MGM

Grupo de 16 empresas alega ter prejuízo acima de R$ 2,5 milhões por falta de repasse da operadora


Emerson Souza
Arnaldo, Ornélia e Ivan Levandowski
Arnaldo, Ornélia e Ivan Levandowski
Os irmãos Arnaldo e Ivan Levandowski, ex-diretores da MGM Operadora, que interrompeu operações devido à crise atual, podem ter de responder legalmente por crime de apropriação indébita. É o que busca um grupo de 16 agências de viagens que afirmam terem sido lesadas pela empresa curitibana e realizaram hoje mais uma reunião com seu advogado.

Esses agentes, que somam, pelas suas contas, ao menos R$ 2,5 milhões em prejuízos decorrentes do sumiço da MGM, alegam falta de resposta da operadora, e suspeitam que os irmãos Levandowski estejam ocultando bens e imóveis em nomes de laranjas, inclusive familiares, para não terem de honrar os rombos deixados aos ex-parceiros comerciais. Segundo levantamento feito por eles, nem Arnaldo e nem Ivan contam com bens registrados em seus nomes, o que seria algo improvável dados os anos de atuação da MGM no mercado. A operadora está no nome de Ornélia Levandowski, mãe de Arnaldo e Ivan.

Emerson Souza
Arnaldo Levandowski
Arnaldo Levandowski
Outra suspeita do grupo de agentes paira na recém-aberta empresa de nome Viajow, que tem um dos ex-advogados da MGM como sócio. Eles seguem suspeitando que exista uma relação entra a nova empresa e a MGM, principalmente pela nomeação de um dos ex-advogados da operadora como sócio da Viajow (veja reportagem anterior veiculada no Portal PANROTAS). Existe a suspeita de que o sistema de vendas a ser lançado pela Viajow seja o mesmo cujo lançamento era ventilado pela MGM pouco tempo antes da pandemia, apenas repaginado. São itens que entrarão nos autos, segundo os agentes. O Portal PANROTAS já falou com os diretores da Viajow, que negaram veementemente a ligação com os donos da MGM. Mas o grupo de agentes promete investigar mais a fundo.

Familiares dos irmãos Levandowski, mesmo jovens, também teriam, segundo apuraram esses agentes, alguns imóveis de luxo registrados em seus nomes, e os próprios Arnaldo e Ivan teriam contas no Exterior para driblarem o bloqueio de recursos e se esquivarem da necessidade de arcar com seus compromissos, alegam os agentes. Ao parar de operar, a MGM apontou que os agentes deveriam negociar a parte terrestre diretamente com os fornecedores, ou poderiam esperar que a empresa voltasse a funcionar.

MGM Operadora era de Curitiba e encerrou atividades após mais de 20 anos
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"Em minha visão, a própria falta de bens no CPF de dois diretores de uma grande operadora de viagens já demonstra má fé. Espero que a justiça seja feita, que sejam penhorados os possíveis imóveis ocultados e os bens sejam bloqueados. Assim como a quebra de sigilo bancário poderia ser conveniente para que sejam descobertos possíveis laranjas", afirma Daniel de Paula, da Sky Trip Viagens, do Rio de Janeiro, um dos principais afetados.

"Por enquanto são suposições às quais eles terão de responder na justiça, mas uma coisa é certa: o Arnaldo nunca atendeu às minhas ligações e o Ivan, nas duas ocasiões que o fez, disse que não tinha previsão para retorno, sempre me dando notícias vagas. Em certa vez me pediram para que eu solicitasse cancelamento voluntário do cliente", completa o agente de viagens, que é especializado em grupos no Exterior e soma R$ 297 mil em prejuízo decorrente da MGM, com quem tem 38 passageiros para embarcar.

O dono da agência fluminense nutre esperanças de que seja ressarcido principalmente porque os agentes optaram pela área criminal em vez da cível. "Nascimento, Turnet, Soletur... há vários casos de operadoras que quebraram e agentes de viagens nada conseguiram na área cível. É por isso que estamos dando a investida pela esfera criminal. Não vamos aceitar tão facilmente, pois há muitos indícios de que não é uma simples quebra por má gestão", completa.

Antes do grupo de 16 agências de viagens se reunir, uma outra agência curitibana já tinha recorrido à esfera criminal contra a MGM, com o mesmo advogado, e já prestou depoimento, conta Daniel de Paula. "Essa agência já foi ouvida pelo Ministério Público. Nós já conseguimos sinalizar reunião via telefone com promotor do MP, que está disposto a nos ajudar assim que a denúncia chegar. Dentro de um mês todos nós teremos prestado depoimento. Quanto mais agências divulgarem e procurarem a Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon) de Curitiba, mais processos serão inseridos no mesmo inquérito", afirma ele, que acrescenta: "em uma soma mais abrangente, avaliamos o prejuízo de outras agências de viagens, do Brasil inteiro, em cerca de R$ 5 milhões".

Daniel de Paula conta que vendeu seu carro e busca aporte para poder honrar com a viagem de seus passageiros, que em sua maioria são de alto poder aquisitivo e pouco sabem da situação com a MGM. "Vou honrar e depois cobrar da MGM. Não é justo que a má gestão de uma empresa e a falta de caráter de empresários prejudiquem meus clientes."

Sobre os rumores de que os irmãos Levandowski teriam "fugido" para o Exterior, os agentes acreditam que não procede e que eles estariam no Brasil. Desde o anúncio da suspensão das operações, feito via Whatsapp pelo Ivan para o editor-chefe da PANROTAS, Artur Luiz Andrade, nossa reportagem não tem mais conseguido contato com a MGM. Como os agentes também estão sem resposta, procuraram novamente a PANROTAS para contar as novas ações que estão tomando para não pagarem pelo prejuízo causado pela MGM.

*Notícia atualizada às 13h24 do dia 5 de novembro de 2020.

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