Janize Colaço   |   26/10/2017 14:04

Morte na Rocinha: sócios de agência serão indiciados

Ainda sem uma legislação que garanta a segurança de quem as visita, o Turismo nas favelas cariocas está longe de apontar para algum tipo de restrição — tanto pela demanda dos visitantes quanto pelos moradores beneficiados pelo setor e agências d

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Conhecida mundialmente, apesar da violência, a Rocinha (foto) atrai um número grande de visitantes
Conhecida mundialmente, apesar da violência, a Rocinha (foto) atrai um número grande de visitantes

A Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat) afirmou ontem (25) que os sócios da agência de viagens Transport Rent Service Agency, responsáveis pelo passeio que terminou com a morte da turista espanhola Maria Esperanza Ruiz Jimenes na Rocinha, serão indiciados. Um dos proprietários foi identificado como Gian Luca Fabris, caso seja denunciado à Justiça, deverá responder por omissão de informações de segurança ao consumidor.

Tânia Rego/Agência Brasil
Por conta dos conflitos entre facções rivais, o policiamento nas comunidades cariocas tem sido constante
Por conta dos conflitos entre facções rivais, o policiamento nas comunidades cariocas tem sido constante
A guia de turismo Rosângela Cunha, também poderá ser responsabilizada, visto que apesar de saber do policiamento na área, ainda afirmou que o passeio poderia ser feito.

"A questão é que os turistas não foram informados sobre a realidade da Rocinha. A favela foi sugerida ao grupo. Eles ficaram animados. Afinal, a Rocinha é uma comunidade conhecida no mundo. Eles não sabiam que o passeio estava se encaminhando para uma tragédia", afirmou a delegada titular da Deat, Valéria Aragão.

DEBATE
A morte de Maria Esperanza, de 67 anos, baleada nesta segunda-feira (23), na Rocinha, tem gerado debates acerca das visitações em comunidades no Rio de Janeiro. Ainda sem uma legislação que garanta a segurança de quem as visita, o Turismo nas favelas cariocas está longe de apontar para algum tipo de restrição — tanto pela demanda dos visitantes quanto pelos moradores e agências de viagens beneficiados pela prática.

Em um encontro realizado ontem, na sede da Riotur, as autoridades turísticas e de Segurança da cidade estudaram propostas que visem solucionar a questão. Ao jornal O Dia, o presidente da entidade, Marcelo Alves, defendeu a obrigatoriedade de adesivos de identificação de veículos com turistas.

"A Riotur convocou os órgãos que fazem o Turismo no Rio para debater esse episódio lamentável [na Rocinha] e os próximos caminhos para minimizar fatos que só mancham a imagem da nossa cidade", pontuou Alves.

A proposta, porém, não é defendida por todos. O especialista em Segurança Pública, Vinicius Cavalcante, realça que apesar de bem-intencionado, o uso de adesivos é inadequado. "Em um ambiente dominado pela criminalidade, [o uso dos adesivos] é preocupante, pois os criminosos podem usar isso como um salvo-conduto frente às Forças de Segurança", salienta.

PADRONIZAÇÃO DAS VISITAS
Apesar da ciência dos riscos, as comunidades visam fomentar projetos para estimular o Turismo — como é o caso da Associação de Moradores da Rocinha, que pretende padronizar as visitas. Segundo o presidente, Carlos Eduardo da Silva, parte dos problemas enfrentados é o fato de muitas agências de viagens não manterem contato com a comunidade, e muitas vezes não ter dimensão se é seguro ou não fazer a visita.

Sobre o incidente com Maria Esperanza, Silva lamentou. "Ficamos ainda mais sentidos porque não é comum isso acontecer, os turistas visitam muito a Rocinha, gostam, indicam para os amigos."

Enquanto seguem sem uma padronização, as comunidades não tiveram as visitas interrompidas. Na mesma semana em que a turista espanhola foi baleada e morta, a cantora Madonna visitou outra região. No Morro da Providência, a artista passeou ontem (25) pelas ruas e becos acompanhada apenas de seus seguranças particulares.


Questionada pelo O Dia, a Polícia Militar afirmou que soube da visita apenas quando a cantora já estava no local.

PRISÕES
Embora a Rocinha esteja sendo palco de um conflito entre dois grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas, Maria Esperanza Ruiz Jimenes foi baleada com um tiro de fuzil disparado por um policial militar. O tenente Davi dos Santos Ribeiro alvejou o veículo em que a turista estava, pois, segundo um comunicado emitido pela Polícia, teria furado o bloqueio feito pelos agentes de segurança.

Ribeiro, que estava acompanhado pelo soldado Luís Eduardo de Noronha, foi detido e indiciado pelo crime de homicídio qualificado na Justiça comum. Por outro lado, na esfera militar ambos polícias serão investigados.

Segundo Uol, a liberdade provisória do tenente foi expedida na terça-feira (24), mas a decisão vale apenas para a Justiça comum. Até a decisão da Corregedoria da Polícia Militar, Ribeiro permanecerá detido na unidade prisional de corporação, em Niterói.


*Fonte: O Dia e Uol

conteúdo original: http://bit.ly/2yNRrlz

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