Rafael Faustino   |   13/11/2017 17:32

Accor encerra marketplace e foca em marcas próprias

A justificativa para o término do "casamento" são resultados "abaixo da expectativa", de acordo com a Accor.

Nos últimos dois anos, a Accor incluiu em sua estratégia de distribuição medidas de apoio a hotéis independentes. Transformando seu portal de reservas em um marketplace, a companhia francesa dava maior visibilidade a esses empreendimentos, em troca de uma comissão nas reservas realizadas e esperando maiores acessos no site. Agora, no entanto, a hoteleira resolveu encerrar essa fase de seus negócios, voltando a se concentrar apenas em suas marcas próprias.

Divulgação/Accor Hotels
Sébastien Bazin, CEO da Accor Hotels: mudança na estratégia de distribuição
Sébastien Bazin, CEO da Accor Hotels: mudança na estratégia de distribuição

A revelação foi feitapelo portal Skift no último final de semana e confirmada pela Accor Hotels ao Portal PANROTAS. Em comunicado, a empresa diz que "esta iniciativa [inclusão de hotéis independentes em seu portfólio] não é mais relevante em relação à estratégia do Grupo e ao seu novo perfil".

Neste momento, entretanto, ainda é possível encontrar os hotéis parceiros no portal da Accor, o que indica que a mudança ainda está em transição.

A justificativa para o término do "casamento" são resultados "abaixo da expectativa", de acordo com a Accor. "A maioria dos clientes AccorHotels.com tendem a favorecer os hotéis da marca Accor Hotels ao procurar acomodações em nossa plataforma", complementa.

Agregando hotéis de terceiros em seu site, a Accor planejava rivalizar com OTAs como Expedia e Booking.com. Para cumprir esse objetivo, foi comprada em 2015 a Fastbooking, empresa que fornece ferramentas digitais para hotéis independentes. Apresentada no Brasil no fim do ano passado, a empresa teve como principal utilidade por aqui acelerar a entrada desses parceiros no marketplace da Accor. Até agosto, já erammais de 150 hotéis brasileiros adicionados.

Emerson Souza
Henrique Campolina, nomeado CEO da Fastbooking no Brasil; Patrick Mendes, CEO da Accor na América do Sul, e Guillaume de Marcillac, ex-CEO global da empresa de apoio a hotéis independentes
Henrique Campolina, nomeado CEO da Fastbooking no Brasil; Patrick Mendes, CEO da Accor na América do Sul, e Guillaume de Marcillac, ex-CEO global da empresa de apoio a hotéis independentes
Com a mudança de rumo, ainda é incerto como ficará a posição da Fastbooking dentro do grupo. Embora a subsidiária possa prover serviços a terceiros independentemente do posicionamento no marketplace, ambos processos estavam intrinsicamente ligados até então. CEO da empresa na época da aquisição e presenta na apresentação da Fastbooking no Brasil, o francês Guillaume de Marcillac não atua mais na Fastbooking, de acordo com seu perfil no Linkedin.

Relembrando declarações antigas do CFO da Accor, Jean-Jacques Morin, o Skift lembra que a hoteleira já enfrentava dificuldades na administração de seu marketplace ao fim do segundo trimestre deste ano. Em conferência após a divulgação dos resultados trimestrais, Morin admitiu que o investimento feito nesse serviço não foi seguido da geração de tráfego esperada para os hotéis independentes. Parte disso porque os esforços de marketing e serviços digitais eram, em grande parte, direcionados às marcas próprias do grupo - o que atende a uma lógica óbvia, mas conflita com a intenção de promover também os parceiros independentes.


Jhonatan Soares
Hotel Ca'd'oro, em São Pauolo, um dos parceiros na promoção via Fastbooking
Hotel Ca'd'oro, em São Pauolo, um dos parceiros na promoção via Fastbooking

A situação caminhou ao ponto de levar à Accor a escolha entre se tornar uma verdadeira OTA ou promover exclusivamente suas marcas, diz o site. "Se a Accor decidisse manter o programa, precisaria aumentar seus gastos em marketing dramaticamente para competir no mesmo nível das maiores OTAs, que investem bilhões todos os anos no Google para direcionar o tráfego para seus sites. A Expedia aumentou seus gastos com marketing e vendas diretas em 25% no segundo trimestre de 2017, para algo estimado em US$ 1,4 bilhão", explica.

Com a admissão pública do fim do market place, espera-se que a Accor invista em mais aquisições, mas totalmente direcionadas ao portfólio hoteleiro e serviços correlatos. Acordos fechados recentemente envolveram a compra do grupo australiano Mantra Mantra Group Limited, operadora de hotéis e resorts na região da Ásia-Pacífico, de parte do grupo dono da tradicional marca de hotéis Orient Express, e do grupo Gekko, que liga redes hoteleiras a viajantes corporativos no mercado europeu.

Veja abaixo a nota completa da Accor sobre o encerramento do marketplace para hotéis independentes:

Nos últimos anos, o Grupo comprometeu-se a uma transformação profunda que visa atender melhor as demandas de seus clientes em experiências customizadas, com uma oferta diversificada.

Neste contexto, o Accor Hotels decidiu há 2 anos abrir sua plataforma de distribuição AccorHotels.com para uma seleção de hotéis independentes, seguindo um duplo objetivo: propor uma maior escolha de hotéis selecionados aos seus clientes e fornecer uma plataforma de reserva alternativa para hotéis independentes.
Esta iniciativa não é mais relevante em relação à estratégia do Grupo e ao seu novo perfil.

Os resultados estão abaixo das expectativas e a maioria dos clientes AccorHotels.com tendem a favorecer os hotéis da marca AccorHotels ao procurar acomodações em nossa plataforma.

A Accor Hotels decidiu, portanto, pôr fim ao Marketplace e se concentrar na integração de suas marcas e serviços recentemente adquiridos em seu ecossistema digital."

Tópicos relacionados