Karina Cedeño   |   23/07/2025 14:30

Viagens corporativas: pesquisa revela que preços seguirão crescendo em 2026

Estudo de CWT e da GBTA revelam tendências nos preços para o setor aéreo, de hospedagens e eventos


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Apesar das pressões de curto prazo, as previsões da GBTA apontam para um período de relativa estabilidade de preços - uma mudança em relação aos anos mais voláteis do pós-pandemia, para um ritmo de crescimento mais previsível
Apesar das pressões de curto prazo, as previsões da GBTA apontam para um período de relativa estabilidade de preços - uma mudança em relação aos anos mais voláteis do pós-pandemia, para um ritmo de crescimento mais previsível

A precificação das viagens corporativas globais está entrando em uma nova fase. No curto prazo, a incerteza econômica, mudanças políticas e a volatilidade do comércio estão pressionando os preços. No longo prazo, esperam-se aumentos contínuos, embora mais moderados, nos preços em 2026.

É o que mostra o CWT GBTA 2026 Global Business Travel Forecast, estudo realizado pela CWT e pela GBTA e divulgado durante a Convenção GBTA 2025, realizada nesta semana em Denver (EUA). O levantamento mostra que os fundamentos que sustentam preços mais altos continuam presentes:

  • Crescimento limitado da capacidade aérea;
  • Oferta moderada - porém constante - de novos hotéis e
  • Custos persistentemente altos para os fornecedores.

Apesar das pressões de curto prazo, as previsões da GBTA apontam para um período de relativa estabilidade de preços - uma mudança em relação aos anos mais voláteis do pós-pandemia, para um ritmo de crescimento mais previsível. Mas os riscos permanecem. A ameaça de uma recessão ou de estagflação (uma combinação preocupante de crescimento lento e inflação persistente) pode remodelar significativamente o cenário de preços.

As incertezas no comércio global e o espectro de uma recessão nos principais mercados, em meio às incertezas tarifárias dos EUA, abalaram a confiança dos compradores de viagens. O setor agora avança com cautela. Isso se reflete em aumentos de preços de um dígito baixo, ou até inferiores a um dígito, nas previsões.

Equilíbrio no poder de precificação está mudando

Sim, o setor ainda aguarda a chegada de um “novo normal”, mas é provável que isso ocorra de forma irregular e gradual. Companhias aéreas, hotéis e prestadores de transporte terrestre responderão com agilidade e rapidez a qualquer enfraquecimento futuro da demanda. Espera-se uma disciplina de capacidade por parte dos fornecedores, que tomarão medidas para proteger suas margens, manter os rendimentos e sustentar os preços — ganhos que foram arduamente conquistados no pós-pandemia.

Pela primeira vez em vários anos, o equilíbrio no poder de precificação está mudando, ainda que de forma muito sutil, para longe dos fornecedores. Ainda assim, os compradores precisarão ser estratégicos para entender onde terão vantagem. Utilizar dados para detalhar os gastos com viagens por setor, rota e destino será essencial.

Veja, abaixo, as previsões do estudo para o setor aéreo, de hospedagem e de transporte terrestre:

Mudanças anuais de preços em viagens corporativas e eventos globais (em dólares)


Previsão de Cenário BasePrevisão de Cenário Recessivo Global

20242025202620252026
Aéreo – Preço Médio da Passagem+4,8%-2,2%+0,4%-5,7%-1%

$721$705$708$680$673
Hotel – Diária Média+1,9%+1,2%+1,8%-3,7%-1,3%

$161$163$166$155$153
Carro – Diária de Aluguel+6,1%+2,9%+2,8%-1,3%-1,8%

$45.40$46.70$48.00$44.80$44.00
Reuniões e Eventos – Custo Médio Por Participante Por Dia+4,5%+3,7%+2,4%-2,5%-1,3%

$162$168$172$158$156
Fonte: Previsão Anual Global de Viagens de Negócios CWT/GBTA 2026 ($USD)

Preços no setor aéreo em 2026

John McArthur/Unsplas
Projeções indicam novo crescimento dos preços em 2026
Projeções indicam novo crescimento dos preços em 2026
  • A Iata prevê que o crescimento do tráfego global de passageiros desacelere para 5,8% neste ano, após a recuperação de dois dígitos registrada em 2024;
  • As tarifas aéreas também sofreram um aumento significativo em 2024, com o preço médio da passagem subindo 4,8%. Em 2025, esse aumento foi suavizado, com uma queda de 2,2%, apoiada pelo aumento da capacidade e pela redução dos custos operacionais;
  • As projeções indicam novo crescimento dos preços em 2026, de 0,4% globalmente. Ainda há pouca capacidade extra de frota disponível no mercado, já que a demanda continua robusta e a oferta está sob controle. Isso pode sustentar um crescimento de preços, ainda que marginal;
  • Os fatores de ocupação, embora estejam se suavizando, atingiram níveis recordes, o que impedirá quedas acentuadas nos preços.

Perspectiva global para o setor aéreo

A precificação das passagens aéreas globais em 2025 e 2026 será moldada por uma disputa constante entre a oferta limitada de assentos, uma demanda de passageiros ainda sólida e uma base de custos que está se suavizando, mas continua volátil. Atrasos nas entregas de aeronaves por parte da Airbus e da Boeing, assim como problemas com peças e manutenção, continuam a restringir a expansão generalizada da capacidade. Isso não apenas impacta o crescimento das companhias aéreas, mas também mantém os preços elevados.

Ao mesmo tempo, o tráfego aéreo global já está 4% acima dos níveis pré-pandemia. A carteira de pedidos de aeronaves atingiu um patamar sem precedentes — agora equivalente a 50% da frota atual, ou seja, 17 mil aeronaves até o final de 2024. Nos ritmos atuais de produção, essa fila de espera representa quase 14 anos de encomendas. Esse prolongado acúmulo de pedidos contribuirá para restrições futuras de capacidade, ineficiências operacionais e custos mais altos — impulsionados, em parte, pela vida útil estendida de aeronaves mais antigas e menos eficientes no consumo de combustível, pela complexidade de gerenciar frotas mistas e pela escassez contínua de peças, que está pressionando as cadeias de suprimentos de MRO (manutenção, reparo e revisão).

As companhias aéreas diante da incerteza econômica

  • As companhias aéreas ainda não sabem como os viajantes corporativos irão se comportar frente à incerteza econômica global. O fato de algumas transportadoras norte-americanas terem retirado suas previsões de lucro para o ano completo de 2025 é indicativo da volatilidade do cenário atual;
  • As aéreas estão cada vez mais focadas em otimizar suas receitas por meio da gestão de receita, em vez de conceder descontos. Elas também passarão a gerenciar capacidade e custos com ainda mais cuidado ao entrar em 2026 — o que deve conter qualquer queda significativa nos preços;
  • Caso as companhias aéreas enfrentem pressões sobre suas margens operacionais no próximo ano, isso pode levá-las a buscar com mais afinco contas corporativas, fortalecendo a posição de negociação dos compradores. No entanto, as empresas podem esperar negociações duras por parte das companhias aéreas;
  • Um fator importante é o preço do querosene de aviação, que pode representar até um terço dos custos operacionais totais de uma companhia aérea. A queda nos preços do petróleo oferece certo alívio às empresas aéreas para 2026, o que pode frear futuros aumentos de tarifas. Contudo, esse impacto dependerá de estratégias de hedge de combustível adotadas ou não por cada companhia;
  • Esses acontecimentos ocorrem em um momento em que as companhias aéreas estão evoluindo ainda mais seus modelos de distribuição, com foco crescente no NDC (New Distribution Capability). Concessões relacionadas a volume e programas de fidelidade podem dar mais poder de barganha aos compradores.

Tendências no setor aéreo para a América Latina

Na América Latina, o preço médio da passagem aérea subiu 1,7% em 2024, alcançando US$ 667. Para 2025, prevê-se uma leve queda de 0,4%, para US$ 664, seguida por um aumento de 1,7% em 2026, chegando a US$ 675. A demanda continua forte na região, impulsionada pelo crescimento econômico e pelo aumento das viagens corporativas. No entanto, a inflação persistente, a volatilidade cambial e a dependência de combustível de aviação importado — frequentemente cotado em dólares — complicam a dinâmica tarifária.

Apesar da queda global nos preços dos combustíveis, as moedas locais desvalorizadas muitas vezes neutralizam os benefícios. O crescimento da capacidade não acompanha a demanda, e vários mercados ainda são pouco atendidos, o que sustenta pressões de alta nos preços a médio prazo.

Tendências globais de preços na hospedagem

Embora os preços dos hotéis tenham se estabilizado globalmente, eles permanecem firmes em vários mercados, indicando ausência de uma queda generalizada
Embora os preços dos hotéis tenham se estabilizado globalmente, eles permanecem firmes em vários mercados, indicando ausência de uma queda generalizada
  • A tarifa média diária global (ADR) subiu 1,9% em 2024, atingindo US$ 161. Espera-se que esse crescimento moderado continue, com uma previsão de aumento de 1,2% em 2025;
  • Embora os preços dos hotéis tenham se estabilizado globalmente, eles permanecem firmes em vários mercados, indicando ausência de uma queda generalizada. No entanto, a visibilidade para 2026 ainda é limitada, devido à curta antecedência nas reservas e às incertezas econômicas;
  • As taxas de ocupação continuam elevadas em todo o mundo, enquanto o crescimento da oferta de novos hotéis permanece abaixo do esperado. Custos elevados de construção e financiamentos mais cautelosos — combinados com reduções graduais nas taxas de juros — estão limitando o desenvolvimento hoteleiro financiado por dívida;
  • Como resultado, o crescimento da oferta deve continuar abaixo das médias históricas, o que sustenta tarifas mais altas, mesmo com a normalização da demanda;
  • Grandes redes internacionais de hotéis têm desenvolvido portfólios de propriedades diversificados por região, o que lhes permite preservar o poder de precificação e manter o RevPAR (receita por quarto disponível) em níveis saudáveis.

Previsões para o setor de hospedagem na América Latina

A América Latina continua sendo uma exceção global no crescimento dos preços de hotéis. A tarifa média diária (ADR) subiu 7,5% em 2024, chegando a US$ 100, com um novo aumento projetado de 7% em 2025.

A forte demanda doméstica e intrarregional, aliada à inflação elevada em vários mercados, está sustentando o poder de precificação contínuo. As taxas de juros permanecem persistentemente altas e a oferta de novos hotéis continua restrita. Espera-se que isso permita aos operadores atingir ganhos reais no ADR em 2026, com um aumento projetado de 5,6%.

No geral, a América Latina segue como um dos mercados hoteleiros mais dinâmicos do mundo, tanto em termos de demanda quanto de crescimento das tarifas.

Perspectivas para 2026: aluguel de veículos

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Espera-se que as questões tarifárias elevem o custo dos aluguéis de veículos
Espera-se que as questões tarifárias elevem o custo dos aluguéis de veículos
  • Olhando para 2026, qualquer incerteza econômica — em nível nacional, regional ou internacional — tende a gerar aumento nos custos dos veículos e a impactar as estratégias de frota. O uso de veículos ainda permanece historicamente baixo para algumas locadoras, o que significa que gestão disciplinada da frota, otimização de receita e controle rigoroso de custos serão cruciais para os fornecedores no próximo ano;
  • O período de estabilidade que o mercado de aluguel de carros vinha experimentando pode ser abalado, dependendo de como a estratégia tarifária dos EUA se desenrolar. Políticas de aquisição de frota e cálculos de custo total de propriedade precisarão ser ajustados. Questões tarifárias também podem desestabilizar os valores residuais dos veículos na América do Norte e na Europa, dependendo da reação dos fabricantes;
  • As tarifas podem aumentar os custos de aquisição, estabelecer um piso firme para os preços nos próximos anos e afetar os planos de adoção de veículos elétricos;
  • Certamente, espera-se que as questões tarifárias elevem o custo dos aluguéis de veículos, particularmente na América do Norte, devido aos custos mais altos de aquisição e às cadeias de suprimento afetadas.

Tendências de aluguel de veículos na América Latina

A América Latina permanece como o mercado de aluguel de carros com maior volatilidade de preços no mundo. A tarifa média diária (ADR) subiu 3,1% em 2024, atingindo US$ 36,4, mas o crescimento dos preços está previsto para desacelerar para 1,4% em 2025 e 1,1% em 2026.

A região é especialmente sensível às flutuações cambiais e à dependência de veículos e combustíveis importados, o que a torna vulnerável a mudanças nos mercados globais.

A inflação persistente em vários países adiciona ainda mais complexidade à formação de preços, podendo neutralizar quaisquer benefícios da valorização das moedas locais ou da melhora nas condições de oferta.

Tendências de preços para reuniões e eventos

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Muitas organizações estão priorizando eventos menores e de alto impacto
Muitas organizações estão priorizando eventos menores e de alto impacto
  • O custo médio por participante em reuniões e eventos aumentou 4,5% no ano passado, impulsionado por uma combinação de pressões inflacionárias, altos custos de mão de obra e produção, além de uma mudança estratégica em direção a eventos mais curados e centrados na experiência;
  • Muitas organizações estão priorizando eventos menores e de alto impacto, o que aumenta o custo per capita, já que as despesas fixas são distribuídas entre menos participantes. Expectativas elevadas quanto à qualidade dos locais, sustentabilidade, bem-estar e capacidade híbrida também estão contribuindo para orçamentos mais altos;
  • Além disso, restrições contínuas na oferta de espaços atrativos para eventos e os aumentos nos custos de viagem e hospedagem estão pressionando ainda mais os gastos;
  • No entanto, é provável que haja uma moderação no crescimento dos preços nos próximos anos, à medida que a incerteza econômica global e as restrições orçamentárias impactam o setor. O crescimento previsto dos preços é de 3,7% em 2025 e 2,4% em 2026, taxas que estão em linha com a inflação média anual nas economias do G20;
  • Os aumentos nos preços de reservas em grupo de hotéis também deverão ser moderados pela tendência de realização de mais eventos em cidades secundárias, onde as tarifas são mais baixas. No entanto, isso será compensado pelos custos mais altos de insumos, como alimentos e bebidas, mão de obra, sistemas audiovisuais e serviços auxiliares;
  • Com os preços continuando a subir até 2026, os orçamentos devem permanecer pressionados. Por isso, os compradores precisarão adotar novas táticas para equilibrar os custos com as expectativas.

Para acessar o estudo completo, clique aqui.

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