Artur Luiz Andrade   |   23/07/2025 02:13
Atualizada em 23/07/2025 12:06

Guerras, política e IA trazem incertezas para as viagens corporativas. O que fazer?

Suzanne Neufang, CEO da GBTA, fala sobre desafios, mas acredita no impacto e necessidade das viagens

PANROTAS / Artur Luiz Andrade
A CEO da GBTA, Suzanne Neufang
A CEO da GBTA, Suzanne Neufang

DENVER, COLORADO – Não estamos vivendo um momento bom para previsões. Ainda mais no setor de viagens corporativas, que são os primeiros impactados por mudanças causadas por guerras, catástrofes, política internacional e crises no comércio. Não bastasse toda essa instabilidade trazida pela geopolítica, a Inteligência Artificial desafia e assusta profissionais e empresas de diversos setores: a IA vai me substituir? Vai mudar tudo o que sabemos e fazemos? Na indústria de Viagens e Turismo não é diferente e a palavra mais repetida na GBTA Convention de Denver, que termina hoje foi: incerteza.

Não conseguimos prever as ações de políticos ou o avanço do uso de IA, muito menos catástrofes naturais ou o vaivém das guerras no Oriente Médio e Leste Europeu. O clima é de apreensão e um misto de realismo com pessimismo, mas há motivos também para acreditar. Afinal, já sobrevivemos a uma pandemia e tantas outras crises e viajar para fazer negócios continua sendo fundamental e desejável – com o fluxo das viagens mudando de direção conforme o vento e novas rotas sendo desenhadas a cada sopro de mudanças.

A GBTA Convention, uma das maiores dos últimos anos, reuniu mais de 5,3 mil profissionais de Viagens Corporativas, incluindo 1,1 mil compradores. A delegação brasileira superou expectativas, com mais de 80 profissionais, e CEO da GBTA, Suzanne Neufang, se mostrou satisfeita com o evento, os debates e com os caminhos apontados. Ela aposta na resiliência do setor, na necessidade das viagens de negócios e no impacto econômico dessa indústria (leia aqui os números divulgados pela GBTA) para que os próximos anos, desafiadores com certeza, sejam também de recordes em gastos e viagens a trabalho.

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CEO da GBTA, Suzanne Neufang. A GBTA Convention de 2026 ocorrerá de 3 a 5 de agosto, em Chicago
CEO da GBTA, Suzanne Neufang. A GBTA Convention de 2026 ocorrerá de 3 a 5 de agosto, em Chicago

Confira nossa entrevista com ela, realizada nesta terça-feira, ao final do segundo dia do evento.

Incertezas diante de nós

PANROTAS – Suzanne, a palavra que mais ouvimos aqui no evento, incluindo em suas atuações no palco principal da GBTA Convention, é incerteza. Não sabemos o que vai ou pode ocorrer no curto prazo, seja por causa da IA, seja por causa da política ou das guerras. Então, como gerenciar essa incerteza e manter as pessoas viajando para fazer negócios?

SUZANNE NEUFANG – Sim, é uma pergunta importante. As incertezas existem, mas, ao contrário de 2008 ou 2001, definitivamente não há a tendência de parar (viagens a negócios) imediatamente. Isso é uma boa notícia. Portanto, as empresas e seus executivos veem que as viagens ainda precisam continuar. Isso pode mudar se você precisar encontrar novos fornecedores, novos compradores ou novos consumidores, se estiver viajando para lugares diferentes. Portanto, provavelmente existem diferentes rotas comerciais em andamento, provavelmente mudando e em transição agora.

Isso não significa coisas ruins para o nosso setor, apenas significa coisas diferentes. Portanto, diferentes nacionalidades irão para diferentes países. E acho que o Brasil definitivamente verá isso também. Pode haver algumas mudanças nas viagens de e para os Estados Unidos? Não sabemos. Essa é a incerteza. É o maior sentimento de incertezas desde a pandemia, e felizmente, não está relacionado à saúde. Está relacionado a questões humanas, que podem ser resolvidas.

PANROTAS – Como lideranças como a GBTA podem ajudar nesse momento a trazer de volta alguma confiança a viajantes e empresas?

SUZANNE – Continuem pesquisando sobre o valor das viagens corporativas, e isso é importante. O tamanho, que mostramos em nosso estudo mais recente, mostra a importância dessas viagens. Há duas semanas, divulgamos dois outros estudos: um sobre o ROI das viagens corporativas nos Estados Unidos e o outro sobre o Reino Unido. São pesquisas com resultados semelhantes, então podem servir a outros mercados, como o Brasil, que é a décima maior economia em Viagens Corporativas. Há uma curva bem definida da evolução das viagens corporativas e estamos ainda subindo, não chegamos ao topo da curva, quando não adiantará gastar mais, pois as vendas não virão. Estamos ainda crescendo. Então, ainda há espaço para todos os setores para investir mais e obter muito mais, o que significa que há crescimento econômico.

Basicamente, estamos dizendo com esses relatórios que não estamos no limite da prosperidade econômica e que há mais, e as viagens de negócios ajudam a fazer isso acontecer. E sem isso, suas vendas permanecem estagnadas em vez de crescerem.

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Suzanne Neufang
Suzanne Neufang

Inteligência artificial vai me substituir?

PANROTAS – Ao mesmo tempo dessas mudanças de rotas, há 5,3 mil profissionais aqui perguntando: como a IA afetará meu trabalho e meu futuro?

SUZANNE – Sim, afetará. Essa é a única resposta que tenho certeza. Acho que começamos com a IA ajudando na eficiência. Você economiza cinco horas obtendo o rascunho por meio de um modelo de IA. Acho que o que nossas profissões e esse setor mudarão é a quantidade desses importantes conjuntos de dados de viagens que serão disponibilizados para grandes modelos de linguagem, porque eles precisam aprender os dados e saber o que fazer com eles. E horários de voos, tarifas negociadas em hotéis, não estão em bancos de dados públicos. Portanto, esses não são acessíveis a nenhum mecanismo de IA hoje. Temos que superar algumas das preocupações com a segurança. E então, acho que esse setor poderá fazer uso total da IA. Mas faremos progresso. Sim, IA e as crises da geopolítica são dois temas recorrentes nesse evento. Mas a outra coisa que vemos também é que há uma grande questão sobre talento. De quais habilidades você precisa? De quais talentos você precisa? Preciso contratar profissionais porque nossa empresa está crescendo, mas onde posso encontrá-los? Quem quer trabalhar com viagens corporativas hoje em dia? Todos querem Turismo. Noites grátis aqui, noites grátis ali. Nos preocupamos muito com dados e trabalho. Mas acho que somos o setor para aqueles que amam viajar, mas também adoram resolver problemas. E acho que todos aqui são muito curiosos e muito voltados para soluções.

E essa é a mágica, eu acho, que atrai as pessoas para cá. Mas as universidades não permitem que você estude viagens corporativas. Você estuda Turismo. Você estuda hospitalidade. Então, estamos tentando descobrir maneiras de ter um professor específico em uma escola de negócios, Turismo, compras ou até mesmo engenharia. A IA vem da engenharia. Então, precisamos que elas também se interessem em resolver nossos problemas.

PANROTAS – No Brasil, vemos novas pessoas novas chegando ao setor. Você vê isso aqui nos Estados Unidos também?

SUZANNE – Está um pouco melhor do que era há três anos. Ainda há, quer dizer, olhe ao redor, há tantas pessoas velhas como eu. Então, temos que melhorar. Temos que continuar melhorando. E ter um programa educacional.

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A CEO da GBTA, Suzanne Neufang, com Artur Luiz Andrade e José Guilherme Alcorta, da PANROTAS
A CEO da GBTA, Suzanne Neufang, com Artur Luiz Andrade e José Guilherme Alcorta, da PANROTAS

Brasil e América Latina

PANROTAS – Temos visto a GBTA mais presente no Brasil agora. Você acabou de fazer um evento incrível lá. Como vê o Brasil e a América Latina?

SUZANNE – Temos o Daniel Duarte em nosso time e que bom que você destacou esse evento no Brasil. Agora temos a Joyce Macieri em nosso novo Conselho. Vou ter uma primeira conversa com ela e com certeza receberemos alguma orientação dela também. O Brasil tem uma delegação numerosa aqui, e estamos honrados com isso. Nosso papel é levar o mundo para o Brasil, e trazer o Brasil para nós também. Vemos isso aqui e vemos isso de maneiras futuras. O Daniel está com muitas ideias para a região e o Brasil.

Otimista ou pessimista?

PANROTAS – Você está otimista para os próximos anos? Vimos a jornalista econômica Mehreen Khan, no palco principal, ela estava um pouco pessimista em relação ao futuro das viagens, não?

SUZANNE – Ela foi provocativa, mas não acho que ela tenha sido pessimista. Acho que ela foi mais realista. O que talvez seja uma forma de dizer pessimista, mas eu a ouvi falar para um grupo menor no dia anterior e as pessoas que ela consulta e ouve não estão necessariamente dizendo "meu Deus, o céu está caindo". É como se dissessem: "O que provavelmente ficará de fora disso?". Qual será o novo normal? Acho que o que ouvi dela é que muito provavelmente existe um novo normal. Esse novo normal pode ser um pouco menos focado no consumidor, em um consumismo exagerado, que é a base da economia dos EUA, provavelmente desde, como ela explicou, os anos Nixon. E que pode haver um retorno. Não acho que isso tenha o mesmo efeito direto nas viagens de negócios como terá nas viagens de consumo. O lazer pode ter um resultado diferente. Acho que nosso propósito e nossa associação estão aqui para garantir que o valor das viagens de negócios seja claro para aqueles que possuem e definem orçamentos, para aqueles que viajam para viver ou apenas viajam algumas vezes por ano, e que sejamos muito claros sobre o benefício para a empresa e para os indivíduos, e que isso não pode desaparecer.

Acho que em tempos difíceis, as viagens de negócios são ainda mais importantes. São viagens diplomáticas. São viagens pela saúde mundial. São viagens comerciais, onde você está resolvendo coisas difíceis, negociações. Isso é realmente impossível de fazer quando você está apenas olhando para dispositivos digitais. Acho que para viagens de negócios, mesmo em tempos de incerteza, desde que seja seguro viajar, temos um bom mapa.

A PANROTAS viaja a convite da GBTA e United Airlines, com proteção GTA



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