D.A.R.: Michel Alcoforado, o ‘antropólogo do luxo’, encanta agentes de viagens
Autor do recém-lançado Coisa de rico faz palestra para os participantes da quarta edição do evento

Aplausos entusiasmados e gritos de “uhu!” de uma plateia atenta não deixaram dúvida: Michel Alcoforado foi a grande atração desta terça-feira (16), no Donas de Agências Ricas (D.A.R.) Premium Travel Summit 2025.
O evento anual promovido por Rogéria Pinheiro, CEO da RP Travel Education, busca levar agentes de viagens a avançarem no mercado de Turismo premium. Alcoforado é conhecido como o “antropólogo do luxo”. Deu match, como costuma dizer Rogéria, com os cerca de 80 participantes do encontro.
Esta é a quarta edição do D.A.R., e a primeira realizada no Rio de Janeiro, em diferentes pontos da cidade. Os agentes já estiveram nos hotéis Santa Teresa MGallery, Fairmont Copacabana e Belmond Copacabana Palace, e na casa de espetáculos Roxy Dinner Show.
Já as palestras de convidados e as sessões de treinamento conduzidas por Rogéria acontecem no Maravalley, novo hub de inovação carioca, no Porto Maravilha.
“Conheci o Michel em um evento de um grande banco do qual participei ano passado como consultora”, contou Rogéria. “Naquela época, a quarta edição do D.A.R. ainda nem estava marcada, mas soube imediatamente que ele teria que ser um dos palestrantes. Faço a programação do evento com muita dedicação e um olhar intencional para que os participantes sejam afetados pelo melhor”.
Michel acaba de lançar Coisa de Rico (Todavia), resultado de mais de uma década de pesquisas para uma tese de doutorado com ricos brasileiros. Muitos agentes de viagens fizeram o dever de casa e estavam na plateia do Maravalley com um exemplar do livro.

A seguir, um resumo de alguns pontos abordados na divertida palestra do antropólogo:
Oceano azul do Turismo
“É real. A principal diferenciação dos ricos se dá no território de viagem. Se não viaja, não é rico. Rico, gostando ou não, viaja. Quem viaja, abre portas. Viagem entrega visão expandida, poder de realização e acúmulo de bagagem. É o principal território que compõe o universo de alta renda. Permite interseções com todos os outros territórios, como tecnologia e inovação, saúde e bem-estar, moda”.
O mundo é uma caixinha de problemas
“Se viagem de rico fosse restrita ao circuito Elizabeth Arden, todos iriam oferecer o melhor serviço. Mas toda semana aparece alguém querendo ir pra Namíbia ou para o Laos. Ou querendo ir à China para comprar vasos de porcelana. Como voltar para o Brasil com vasos chineses? Descubra. Trabalhar com segmento premium é olhar para um mar de oportunidades”.
Dilema brasileiro
“No Brasil ninguém se acha rico. O topo nunca chega. Rico é sempre o outro. Todo mundo tem um rico de estimação. E um pobre do qual quer se afastar. Você também é o rico de alguém, e o pobre de outro. Isso é central na organização da sociedade brasileira. Ser rico não é condição, é uma relação”.
Especialistas
“Consultores de viagem têm que organizar essas relações. O especialista precisa dominar o processo e mostrar qual é o negócio do momento, porque rico é a pessoa mais insegura que existe. Tem que dizer para o cliente premium que no México tem lugar muito melhor do que Cancún. Tem que apresentar um hotel nas Maldivas melhor do que o cliente pesquisou na internet ou viu na rede social de um conhecido”.
Administração de fronteiras
“É papel do consultor organizar fronteiras para os clientes que ascenderam socialmente. É sobre o que eu tenho e o outro não tem. Brasil é sobre fronteiras. Uma das camadas de distinção do segmento opera no timing coletivo. Verão europeu, por exemplo, é uma instituição dos ricos brasileiros. Seu consumidor paga pela capacidade imaginativa que o seu serviço evoca nos outros”.
Estilo de vida
“Alto padrão não é ter dinheiro. É o que você faz com ele. O ‘vida boa’ vive de acordo com o que tem. Para o ‘metido à besta’ você precisa inventar um produto, porque ele passa cinco dias em um hotel qualquer e uma noite em um de luxo. O ‘falido’ não tem dinheiro, mas sabe apreciar as boas coisas, como uma reserva para um drinque no bar do Le Meurice, em Paris, mesmo que não possa se hospedar lá. Já o ‘mão-de-vaca’ é aquele com quem ninguém quer conviver. O papel do consultor premium é convencê-lo de que ele pode, sim, pagar, e oferecer experiências que o catapulta para contextos sociais proibidos para aqueles que não podem pagar”.