Pedro Menezes   |   30/12/2025 13:38

Por que os turistas estão passando horas na fila de imigração em Lisboa?

Transtorno é causado pela implementação do novo sistema europeu de controle de fronteiras (EES)

Reprodução X/@JSnotario
EES foi feito para facilitar a vida dos turistas, mas neste princípio, como tudo é novo e quase nenhum turista tem cadastro prévio, o processo de cadastro precisa de mais etapas e consequentemente de mais tempo
EES foi feito para facilitar a vida dos turistas, mas neste princípio, como tudo é novo e quase nenhum turista tem cadastro prévio, o processo de cadastro precisa de mais etapas e consequentemente de mais tempo

Não está fácil a vida dos turistas que desembarcam no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, neste fim de ano. Por conta da implementação do novo sistema europeu de controle de fronteiras, conhecido como Entry/Exit System (EES), os passageiros têm enfrentado várias horas nas filas de imigração em horários de pico.

O novo sistema, que entrou em vigor em outubro, como estamos acompanhando em detalhes no Portal PANROTAS, se aplica a passageiros provenientes de fora do Espaço Schengen. Ele chegou para acabar com o carimbo manual de passaportes, o que ocorre desde o fim de outubro.

A Comissão Europeia já afirmou que o EES foi feito para facilitar a vida dos turistas, mas neste princípio, como tudo é novo e quase nenhum turista tem cadastro prévio, o processo de identificação precisa de mais etapas e consequentemente de mais tempo.

Aliás, a demora além do normal já vinha sendo alertada pela própria Comissão Europeia. As autoridades portuguesas, inclusive, até ponderaram a suspensão temporária do EES na imigração durante as festas de fim de ano, mas nenhuma decisão acabou sendo tomada.


O resultado, como vemos em vídeos nas redes sociais, são filas intermináveis, pessoas passando mal por ficarem tanto tempo em pé, além, claro, da perda incontável de conexões para outros destinos na própria Europa. A situação ganhou amplo destaque na imprensa portuguesa nas últimas semanas e já é classificada por membros do próprio governo como um “embaraço”.

Há muitos viajantes reclamando de filas que ultrapassam as seis horas, isso sem qualquer assistência, água ou comida, incluindo falta de cuidado com crianças e pessoas idosas. Nas redes sociais, as reclamações se multiplicam. Muitos já classificaram a situação como "desumana".

LEIA TAMBÉM: Novo sistema impõe regras mais rígidas para permanência de turistas

Segundo o Ministério da Administração Interna de Portugal, os constrangimentos começaram ainda na fase de integração das bases de dados europeias, como o Sistema de Informação Schengen e o EURODAC, e agravaram-se a partir de outubro, quando o EES se tornou plenamente operacional.

Em períodos de pico, passageiros relatam esperas que chegaram a ultrapassar quatro, cinco e até seis horas, especialmente em Lisboa, aeroporto que concentra a maior parte das chegadas internacionais.

Em declarações ao jornal The Portugal News, o secretário de Estado das Infraestruturas de Portugal admitiu que “ninguém pode estar satisfeito com a experiência do passageiro atualmente nos aeroportos nacionais”. O responsável reconheceu que as filas na imigração são apenas parte de um problema mais amplo, que envolve infraestruturas sobrecarregadas, corredores estreitos e falhas na qualidade do serviço prestado.


E há outro ponto grave a ser citado. Dados citados pela ANA Aeroportos indicam que o Aeroporto de Lisboa foi projetado para cerca de 22 milhões de passageiros por ano, mas hoje recebe mais de 36 milhões, o que agrava qualquer mudança operacional. A pressão é ainda maior nos postos de controlo de fronteira, onde o novo sistema exige verificações digitais combinadas com conferência manual por agentes da PSP.

O próprio governo português reconheceu a gravidade da situação ao afirmar que o problema nas fronteiras “é um embaraço” e que, neste momento, “a única coisa possível é pedir desculpas”. A expectativa é que a situação esteja mais estabilizada até o verão europeu, período de alta temporada turística.

Divulgação
O novo sistema, que entrou em vigor em outubro, como estamos acompanhando em detalhes no Portal PANROTAS, se aplica a passageiros provenientes de fora do Espaço Schengen
O novo sistema, que entrou em vigor em outubro, como estamos acompanhando em detalhes no Portal PANROTAS, se aplica a passageiros provenientes de fora do Espaço Schengen

Para tentar conter o desgaste, o Ministério da Administração Interna anunciou o reforço de efetivo policial, com o envio de dezenas de agentes adicionais para o aeroporto de Lisboa, e a criação de um gabinete de crise com monitorização diária dos tempos de espera. Apesar disso, o próprio ministério admite que o número de agentes ainda está abaixo do ideal.

Autoridades portuguesas, no entanto, reforçam que os problemas não são exclusivos de Portugal e fazem parte de um processo de transição vivido em vários países da União Europeia. Até que a adaptação esteja concluída, no entanto, quem chega a Lisboa precisa de paciência (e muita!).

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Sobre o autor

Natural do Rio de Janeiro, Pedro Menezes é bacharel em Comunicação Social/Jornalismo e atua há 12 anos na imprensa especializada em Turismo. Atualmente, é editor do maior portal brasileiro voltado a profissionais do setor, com base em São Paulo. O jornalista tem experiência em cobertura nacional e internacional de feiras, congressos e eventos, além de pautas de política e economia ligadas ao Turismo.