Como inovar com tecnologia e sustentabilidade para atender o novo viajante? Leia o artigo

PANROTAS / Emerson Souza

O Turismo vive uma transformação impulsionada por avanços tecnológicos e pela urgência da sustentabilidade. A inovação digital está redesenhando experiências e operações. E para se preparar para o futuro, é essencial unir tecnologia, sustentabilidade e engajamento estratégico com os viajantes.

Este é o tema do artigo de Dany Oliveira, engenheiro industrial, especialista em aviação e ex-Country Manager da Iata no Brasil. Confira na íntegra abaixo.

Tecnologia e Sustentabilidade: prepare sua agência para o amanhã!

"O setor de viagens e Turismo atravessa um momento transformador, impulsionado por avanços tecnológicos sem precedentes e pela crescente urgência de adotar práticas sustentáveis. Para se manter competitivo em um mundo em constante transformação, é essencial inovar continuamente e integrar a sustentabilidade como parte central da estratégia de negócios. Nesse cenário, a tecnologia se consolida como um catalisador, promovendo experiências mais ricas para o viajante e operações mais eficientes, enquanto a sustentabilidade se torna um diferencial relevante na atração e fidelização de clientes.

A tecnologia está remodelando fundamentalmente os modelos operacionais e as expectativas dos consumidores no turismo. A aceleração digital abre caminho para novas soluções, aumento na produtividade, estímulo à criatividade e crescimento sustentável. O relatório do World Travel & Tourism Council - Technology Game Changers Future Trends in Travel & Tourism oferece uma perspectiva de futuro, explorando tecnologias-chave e seus impactos potenciais no setor.

As áreas de inovação tecnológica são vastas e interconectadas:

• Tecnologias Digitais: A Inteligência Artificial (IA) está na vanguarda, já reconhecida por 94% dos líderes empresariais globais como vital para o sucesso organizacional futuro, e revolucionando a experiência do cliente ao permitir personalização em larga escala e ganhos operacionais. Ferramentas como o TripGenie exemplificam como o planejamento e as reservas podem ser feitas de forma fluida e personalizada. Outras tecnologias como 6G prometem conectividade mais rápida e estável, essencial para operações e para atender a um público cada vez mais conectado. Super Apps, por sua vez, integram múltiplas funcionalidades de viagem em uma única plataforma, reduzindo o atrito e melhorando a experiência do cliente; uma pesquisa da Accenture revelou que uma esmagadora maioria dos viajantes - 97% - deseja um super app de viagens que ofereça acesso integrado e centralizado a uma ampla gama de serviços relacionados a viagens, incluindo sugestões de destinos personalizados e inspiradores, passagens aéreas, refeições e muito mais. As tecnologias imersivas, incluindo realidade estendida (XR) e “gêmeos digitais”, estão começando a permitir pré-visualizações de destinos e acomodações antes mesmo de sair de casa, com crescente interesse dos viajantes.
• Tecnologias Financeiras (FinTech): Soluções como Buy Now, Pay Later – o famoso pagamento em parcelas que o brasileiro tanto usa, Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDC), Open Banking e Carteiras Digitais com credenciais de viagem estão simplificando pagamentos e gerenciamento de identidade, especialmente em transações internacionais complexas. A adoção de CBDCs, por exemplo, já desperta interesse considerável entre viajantes.
• O Futuro da Mobilidade: Inclui avanços em viagens mais sustentáveis (combustíveis sustentáveis, propulsão elétrica/hidrogênio, energia de porto), Mobility-as-a-Service (MaaS) e veículos autônomos, todos com foco em maior eficiência e menor impacto ambiental. O conceito MaaS pode inclusive redefinir o design urbano e a mobilidade em destinos turísticos.
• Inovações Revolucionárias: Tecnologias como Cidades Inteligentes, Computação Quântica e Turismo Espacial têm o potencial de redefinir fundamentalmente o setor e o mundo. Cidades inteligentes podem melhorar tanto a vida urbana quanto a experiência do visitante. A computação quântica – ainda em estágio inicial - poderá resolver problemas complexos como otimização de itinerários de viagem em segundos e o turismo espacial representa uma nova fronteira para experiências extraordinárias.

Para aproveitar essas oportunidades, as empresas de viagens e turismo devem adotar uma cultura de "experimentação inteligente" em pequena escala, investir no desenvolvimento das competências digitais de suas equipes, construir uma base tecnológica sólida e engajar com governos na criação de políticas que incentivem a inovação com regulamentações harmônicas.

Ao lado da revolução digital, o setor precisa abordar seu impacto ambiental, particularmente as emissões do transporte, que são um contribuidor significativo para as emissões do turismo. A desfossilização do transporte aéreo e marítimo é uma prioridade. Os combustíveis sustentáveis (SAF e bioLNG) são, por ora, a única alternativa viável de curto a médio prazo, pois podem ser utilizados nas infraestruturas e motores atuais. Exemplos como o voo transatlântico 100% SAF da Virgin Atlantic e o cruzeiro com emissão líquida zero da MSC Cruises mostram o caminho. O fornecimento de energia nos portos (Port Power) também é uma solução eficaz para reduzir emissões nessas áreas.

No entanto, existem desafios significativos para escalar a produção desses combustíveis, como altíssimo custo, escassez de matéria-prima, complexidade regulatória e capacidade limitada de produção. Existe o risco concreto de o custo das viagens aumentar, caso essas soluções sustentáveis permaneçam inacessíveis.

Além das questões técnicas e operacionais, a sustentabilidade no turismo depende também da percepção do consumidor. O relatório do World Travel & Tourism Council - Bridging The Say-Do Gap How to create an effective sustainability strategy by understanding your customers revela uma lacuna entre o que os consumidores dizem valorizar e o que realmente praticam. A maioria afirma se preocupar com o meio ambiente, mas prioriza custo e qualidade ao tomar decisões de compra. Uma pesquisa no Reino Unido identificou seis segmentos de consumidores (personas) com diferentes atitudes e comportamentos em relação à sustentabilidade.

Apesar da preocupação, prioridades financeiras e qualidade superam a sustentabilidade para a maioria dos consumidores. Os grupos que mais valorizam a sustentabilidade em suas decisões de compra costumam ser compostos por uma proporção maior de mulheres do que de homens. Os consumidores colocam a maior expectativa de ação sustentável em grandes empresas e governos. A mídia tradicional é a fonte mais comum de informação sobre sustentabilidade e a disposição para mudar o comportamento é influenciada por tempo, esforço, custo e percepção de impacto ou benefício pessoal. Curiosamente, os segmentos com maior renda são os que menos gastam com sustentabilidade, indicando que a renda não é o principal fator, e sim a disposição para agir.

Para ajudar a resolver a discrepância entre o “discurso e prática”, o relatório apresenta sete recomendações para empresas de turismo e viagens, que podem ser adaptadas aos diferentes perfis de viajantes:

1. Destacar benefícios econômicos e pessoais de escolhas sustentáveis, evitando cobranças extras e oferecendo recompensas, descontos ou pontos de fidelidade para quem opta por práticas ecológicas.

2. Tornar a sustentabilidade fácil e intuitiva, eliminando barreiras e estabelecendo-a como a opção padrão, especialmente em uma sociedade com pouco tempo disponível.

3. Oferecer programas de recompensas em níveis, desde alternativas básicas sem custo até opções premium, para engajar diferentes perfis de consumidores.

4. Evidenciar parcerias e iniciativas sustentáveis, reforçando a transparência, apresentando resultados concretos e promovendo fornecedores com práticas alinhadas à sustentabilidade.

5. Educar e conscientizar os consumidores, conectando a sustentabilidade com benefícios reais no cotidiano, e utilizando porta-vozes confiáveis.

6. Adotar estratégias de marketing personalizadas, ajustando mensagens conforme os valores e preferências de cada segmento.

7. Coletar feedback de forma contínua, para identificar barreiras e ajustar programas e inovações sustentáveis com base nas percepções reais dos clientes.

A adoção estratégica e integrada de inovações tecnológicas, desde IA e Super Apps até MaaS e ferramentas imersivas, é fundamental para aprimorar a experiência do viajante e a eficiência operacional. No entanto, essa evolução deve ocorrer em conjunto com um compromisso com a sustentabilidade. Escalar a produção e adoção de combustíveis sustentáveis, enfrentar o desafio da desfossilização do transporte e, crucialmente, entender e engajar os consumidores para que suas intenções sustentáveis se traduzam em ações são passos indispensáveis. E os governos precisam fazer sua parte, agora!

Para liderar neste novo cenário, as empresas e associações devem abraçar a colaboração, investir em inovação sustentável adaptar suas estratégias às diversas prioridades dos consumidores. Ao fazer isso, o setor não apenas reduz riscos (como o aumento de custos e a insatisfação dos clientes), como também lança uma nova era para viagens e turismo, caracterizada por experiências enriquecedoras, eficiência aprimorada e um impacto positivo para o planeta.

A jornada rumo a um futuro mais inteligente, conectado e sustentável exige visão, investimento e, acima de tudo, ação coletiva em todo o ecossistema do Turismo."