Da Redação   |   05/11/2025 19:00

CEO da Diaspora.Black destaca afroturismo como ato de resistência e futuro; leia o artigo

CEO da Diaspora.Black propõe enxergar cada viagem como um ato político

Divulgação
Carlos Humberto Filho é fundador e CEO da Diaspora.Black, plataforma global de tecnologia que promove experiências de turismo, educação e cultura afrocentrada em mais de 18 paíse
Carlos Humberto Filho é fundador e CEO da Diaspora.Black, plataforma global de tecnologia que promove experiências de turismo, educação e cultura afrocentrada em mais de 18 paíse

O Turismo, mais do que lazer, pode ser um instrumento de transformação social e de reconstrução histórica. Essa é a reflexão central do artigo de Carlos Humberto, CEO da Diaspora.Black, que propõe enxergar cada viagem como um ato político - capaz de revelar ou silenciar narrativas sobre quem somos enquanto país.

Ele defende que o afroturismo, movimento que cresce em todo o Brasil, é uma forma de devolver às comunidades negras o direito de contar suas próprias histórias e de ocupar espaços historicamente marginalizados pelo Turismo convencional.

Com base em dados do Mapeamento Nacional do Afroturismo, Humberto destaca o avanço de iniciativas afrocentradas em todas as regiões do País, sobretudo no Sudeste e no Nordeste, e mostra como essas experiências vêm gerando renda, fortalecendo o orgulho da identidade negra e impulsionando economias locais.

Mais do que um nicho, o setor se consolida como uma estratégia de desenvolvimento sustentável e de reparação histórica - um caminho para um Turismo que reconhece a pluralidade brasileira e transforma cultura em potência.

Confira o artigo de Carlos Humberto na íntegra logo abaixo:

O Turismo como ato político: o poder de recontar a história

"Toda viagem é uma forma de narrativa. Quando escolhemos um destino, estamos escolhendo também qual história queremos ouvir e quais histórias continuaremos a silenciar. O turismo não é neutro. Ele molda imaginários, define o que é digno de ser lembrado e quem é digno de ser visto. No Brasil, país onde mais da metade da população se reconhece como negra, ainda é recente o reconhecimento de que nossas rotas turísticas também precisam falar sobre ancestralidade, resistência e identidade.

Cada roteiro afrocentrado é, antes de tudo, um gesto político. Ele devolve às comunidades negras o direito de narrar suas próprias histórias. O que antes era contado por olhares externos e distantes, hoje é vivido e compartilhado por quem pertence a esses territórios. As visitas a quilombos, terreiros, circuitos culturais e lugares de memória não são apenas experiências turísticas: são reencontros com a verdade, com a dignidade e com o pertencimento.

Os dados da pesquisa Mapeamento Nacional do Afroturismo, revelam um setor em crescimento e cheio de propósito. Metade das iniciativas mapeadas tem menos de cinco anos, reflexo de um movimento recente de profissionalização e engajamento identitário. Essas experiências estão presentes em todas as regiões do Brasil, com maior concentração no Sudeste (38%) e no Nordeste (28%), e com destaque para a Bahia, o Rio de Janeiro e São Paulo, onde o afroturismo se conecta à história viva de cada território.

O impacto é real. As experiências geram renda e emprego em 40% das comunidades participantes, fortalecem o orgulho da identidade negra e impulsionam economias locais baseadas na cultura, na gastronomia e na arte. Em um país onde o turismo convencional muitas vezes ignora as periferias, os quilombos e as comunidades tradicionais, o afroturismo faz o caminho inverso, ele leva o visitante a esses lugares, de forma respeitosa, educativa e transformadora.

Há, no entanto, um desafio que ultrapassa o econômico. O estudo aponta o racismo e a invisibilidade como as principais barreiras para o crescimento do setor. Faltam políticas públicas, campanhas de divulgação e reconhecimento institucional que enxerguem o afroturismo não como nicho, mas como estratégia de desenvolvimento sustentável e de afirmação de cidadania. O turismo, quando enxerga todas as suas vozes, tem poder de reparação.

O Brasil precisa compreender que recontar sua história também é tarefa econômica. Cada roteiro afro-brasileiro é uma lição de diversidade, cada visita a um território negro é uma aula de história que as escolas não contaram. O turismo pode e deve ser uma política de memória, um instrumento para reconstruir a autoestima coletiva e para mostrar ao mundo um país que não nega suas raízes africanas, mas as reconhece como fonte de riqueza e identidade.

O afroturismo não é sobre o passado, é sobre futuro. É sobre construir um Brasil que se reconhece em sua pluralidade e que transforma cultura em potência. Quando uma mulher negra conduz um grupo por um território ancestral, ela não está apenas guiando turistas. Está guiando o país em direção à sua própria verdade".

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