Artur Luiz Andrade   |   30/09/2025 11:09

Ícone das viagens de luxo, Manfredi Lefebvre assume como chairman do WTTC

O empresário atualmente comanda o Abercrombie & Kent Travel Group e é conhecido pelo case da Silversea

Divulgação/WTTC
 Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC, com a presidente interina, Gloria Guevara, e o ex-chair, Greg O'Hara
Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC, com a presidente interina, Gloria Guevara, e o ex-chair, Greg O'Hara

Manfredi Lefebvre é o novo chairman do WTTC e também o primeiro italiano a ocupar o cargo. Ele sucede Greg O'Hara, do Grupo Certares, que liderava a organização desde novembro de 2023.

Lefebvre é um dos ícones do Turismo mundial, especialmente os cruzeiros de luxo. Hoje presidente executivo do Heritage Group e do Abercrombie & Kent Travel Group, o empresário teve seu maior case na transformação da Silversea Cruises em líder global no segmento de alto luxo. Ele vendeu a empresa para a Royal Caribbean, mas não parou, e como ele mesmo diz, resolveu empreender novamente aos 72 anos.

Com mais de quatro décadas de experiência, sua influência se estende a viagens de luxo, lazer e investimentos diversificados, abrangendo biotecnologia, transição energética e mercado imobiliário.

“Ao assumir o cargo de presidente do WTTC hoje, sinto-me honrado e revigorado. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (na tradução para o português) tem sido um pilar fundamental do nosso setor, defendendo a resiliência e o progresso. Viagens não são apenas uma indústria; são uma paixão profunda que conecta pessoas”, disse na abertura do Global Summit 2025, em Roma.

“Juntamente com nossos membros, estou comprometida em impulsionar a inovação responsável, garantindo que nosso setor não apenas se recupere, mas prospere no novo mundo que estamos moldando. Agradeço profundamente a Greg por sua liderança excepcional e compromisso inabalável.”

Manfredi Lefebvre

Além de sua excelência no setor de Viagens e Turismo, Lefebvre também ocupa cargos de liderança em diversas empresas e instituições. Ele atua como vice-presidente da Arqit Quantum, consultor sênior Global da Rothschild & Co. e tem cargos diplomáticos e culturais honorários, incluindo o de Cônsul Honorário do Equador em Mônaco.

Divulgação/WTTC
Homenagem a Greg O'Hara, sucedido por Manfredi Lefebvre no comando do WTTC
Homenagem a Greg O'Hara, sucedido por Manfredi Lefebvre no comando do WTTC

Entrevista com o novo líder do WTTC

Após a posse oficial como novo chairman do WTTC, Manfredi Lefebvre falou com um grupo de jornalistas presentes ao evento e ao responder sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos minimizou com um exemplo do Brasil. “A América do Sul é a Bíblia dos impostos. Levamos um navio para o Brasil agora e a burocracia e dificuldade para importar produtos e alimentos a bordo foi enorme, bem mais difícil que nos Estados Unidos”, disse ele, que também afagou o Brasil. “Amo o Brasil, quero muito conhecer o Pantanal e os Lençóis Maranhenses, mas essa é a realidade dos negócios na América do Sul em geral.”

Sobre o boom de novos navios e empresas de cruzeiros de luxo, o empresário por trás da Crystal Cruises (parte do A&K Travel Group), ele disse que acha muito bom, pois elas estão elevando o patamar de preços da indústria. “Somos melhores e mais baratos, então podemos cobrar mais com a chegada deles.”

Divulgação/WTTC
 Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC
Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC

Confira a seguir outros tópicos da entrevista com Manfredi Lefebvre:

Overtourism

Alinhado com o discurso da ministra Daniela Santanchè, Lefebvre disse que o Turismo precisa distribuir melhor os visitantes geograficamente e também durante o ano. Trabalhar as sazonalidades, aumentando as épocas de visita, e promover novo destinos são duas prioridades. Isso depende de uma cooperação entre o setor privado, o governo federal (que muitas vezes define épocas de férias) e os destinos. “Cabe ao governo mostrar que vale a pena ir a Valencia, na Espanha, e não apenas para Barcelona, que está sofrendo com overtourism”, exemplificou. E à iniciativa privada cabe desenvolver os produtos, preços acessíveis, estrutura para receber esses visitantes.

Para ele há várias formar de lidar com o overtourism e preservar destinos naturais, como Galápagos faz, por exemplo. Cabe, para ele, aos governos tomar a decisão em relação à forma de controle: desde cobrar mais dos visitantes até ter um número limitado. Além de promover novos destinos para distribuir os fluxos.

“É preciso cooperação entre o público e o privado. Nos destinos com overtourism, há muitas pessoas que vivem do Turismo. Vamos cortar o Turismo?”

Cruzeiros e sustentabilidade nas comunidades

Para o chairman do WTTC, é uma questão de trabalhar com os governos e os destinos o fluxo desses navios e dos passageiros. Criar alternativas e gerenciar os fluxos de pessoas em cada porto.

Agentes de viagens

Ouço há 40 anos que os agentes de viagens estão desaparecendo. E eles não desaparecem. Pelo contrário, ficaram mais fortes depois da pandemia. O fator humano ainda é muito importante nas viagens. Tudo depende também do produto que se está comprando. Quanto mais confortável você estiver, mais você precisa de uma opinião e há mais opções para viajar. A IA é uma ferramenta boa para pesquisar e ver as opções, mas o agente de viagens coloca sua expertise pessoal, seu conhecimento do produto e auxiliar o cliente a tomar a melhor decisão.

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 Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC
Manfredi Lefebvre, novo chairman do WTTC

Política

Para Manfredi Lefebvre o Turismo não deveria ser e não é movido a ideologias. Lembro de uma discussão com minha filha sobre visitar Myanmar. Ela havia lido que não deveríamos ir por se tratar de uma ditadura. Primeiro, que se não enviarmos turistas para Myanmar, estaremos prejudicando as pessoas do país. E em segundo lugar, viajar abre mentes e podemos ajudar com nossa visão visitando Myanmar. Se eles virem mais visitantes de vários países, isso ajudará a abrir suas mentes.

Será que a única regra para julgarmos (um destino) é se é uma democracia ou não? Para nós, europeus, a pena de morte é ainda pior. Visitar um país que mata seus cidadãos ou não? Mas a gente ainda vai a países que têm pena de morte. Como o esporte, as viagens estão além dessas barreiras ideológicas.

Preços altos

A solução para ele é aumentar a oferta, ter mais competição. Eu adoraria que mais italianos passassem suas férias na Itália, e não na Turquia, mas controlar preços não é a resposta para a alta que vivemos atualmente.

Promoção de destinos

A posição do WTTC é a de que os destinos precisam de investimento suficiente em promoção. A recente diminuição do budget da Brand USA deve causar impactos negativos na visitação internacional dos Estados Unidos, e o WTTC já prevê US$ 12 bilhões a menos em gastos de estrangeiros em 2025. Uma pequena fração perto dos US$ 2,6 trilhões que a indústria do Turismo americana arrecada, lembrando que a parte do internacional nesse todo é de “apenas” US$ 181 bilhões, o suficiente para o país liderar o ranking de gastos de turistas. De qualquer forma, a queda prevista de 5% este ano não é boa para a parte da indústria que atende ou depende dos visitantes estrangeiros.

A PANROTAS viaja a convite do WTTC, com proteção GTA



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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é editor-chefe da PANROTAS, jornalista formado pela UFRJ e especializado em Turismo há mais de 30 anos.