Emoção, experiência, privacidade e... cogumelos? 6 tendências do luxo
CEO da The Traveller Made, Quentin Desurmont concede entrevista exclusiva à PANROTAS

Durante o evento The Essence of Luxury Panama, realizado pela Serandipians by Traveller Made, o CEO da rede de viagens de luxo, que congrega alguns dos mais renomados travel designers e fornecedores do mundo, Quentin Desurmont, compartilhou sua visão de futuro sobre o setor.
O francês, que além de liderar a rede é consultor de viagens de luxo de alguns dos maiores milionários da Europa, destacou seis tendências que estão moldando as viagens de alto padrão, observadas a partir do feedback dos membros Serandipians e agora Takumians.
"Temos algumas tendências que vieram de nossas agências", iniciou Desurmont, antes de detalhar os caminhos que os viajantes mais ricos do mundo estão buscando. Ele ressaltou que não se trata de ferramentas como inteligência artificial, pois isso ele já comentou na abertura do evento (e você confere aqui) mas sim do "tipo de viagem".

Viagem emocional - conscientize seu cliente
No cotidiano atribulado os consumidores mais abastados não têm tempo para planejar uma viagem de alto nível. A rotina de trabalho, família e viagens a trabalho gera um estresse constante. "As pessoas estão super estressadas, vão rápido, voltam para casa, jantam, dormem", aponta o especialista.
Assim, a rotina desses consumidores costuma ter poucas doses de emoção. "O que você precisa é viajar. Parece óbvio, e é. Viagens surgem como uma ferramenta fantástica. Você tem uma vida louca na cidade, e então você vai a um safári na África e é capaz de esquecer tudo."
Desurmont enfatiza o momento de aterrissagem, no qual o cliente precisa mudar de mentalidade e realmente se afastar um pouco dos negócios. "É nesse ponto que as pessoas começam a se reconectar. Os travel designers podem e devem sugerir isso a seus clientes. Falar sobre isso", indica Desurmont. "Pois o desafio é criar essas emoções quando eles se reconectam, fazer eles terem mais laços com a família. Isso se aplica não só a famílias, mas também grupos de pessoas que vivem juntas e que precisam se reconectar".
Viagem experimental
Quentin Desurmont relata um aumento na procura por parte de viajantes de luxo que querem reviver aventuras das grandes descobertas de séculos antigos. "Mas claro, eles querem vivê-las com conforto e segurança", pondera.
Segundo o CEO da The Traveller Made, isso levou muitos agentes de viagens a se especializarem nessa categoria. "São viagens super caras, mas tem muita gente que pode pagar por isso, assim como tem gente que abre mão de comprar um novo imóvel para poder fazer esse tipo de expedição. Um roteiro de duas semanas que gerará uma memória para o resto da vida, algo que poucas pessoas viveram, além de ter fotos e vídeos incríveis."
O famoso dilema "bens materiais ou experiências" sobe a um novo patamar...
Privacidade
Assim como apontou o diretor da ILTM Latin America, Simon Mayle, e o sócio-diretor da Primetour, Maurice Padovani, a privacidade se tornou um elemento essencial no segmento de viagens de luxo.
Desurmont garante que a Serandipians foi pioneira ao lançar "a categoria de lugares privados", referindo-se ao aluguel de casas. "Quando lancei a The Traveller Made, questionava muito nossas agências sobre a pouca oferta diante da alta demanda por lindas casas em Saint-Tropez, chalés na montanha, imóveis em Courchevel, por exemplo", relembra.
"Algumas pessoas não querem ir a um hotel, mas sim a uma casa, com alto serviço, e não podemos ignorar essa modalidade de férias. Querem se sentir em casa, mas sem ter que comprar casas em todos os lugares, devido aos custos e dificuldades de manutenção", explica Desurmont, cuja solução foi atrair corretores de casas, vilas e chalés para a comunidade. "Cerca de 15% da parte de hospitalidade vendida pelas agências Serandipians hoje são em lugares privados, que são muito apreciados por famílias."

Essa busca por privacidade estende-se a jatos particulares e barcos, uma demanda que cresceu vertiginosamente durante a pandemia. "Nem todos os mercados buscam a privacidade da mesma forma. Os americanos, por exemplo, gostam mais de estar em hotéis."
Slow Travel
Viagens lentas, sem ritmo ou cronogramas frenéticos, é a quarta tendência. "Trens, por exemplo", diz Desurmont, ilustrando com "Belmond, Orient Express e Dolce Vita".
Menção também para o setor de cruzeiros, que apresenta uma oferta crescente de produtos ao longo desta década. O francês se mostra empolgado com esses produtos e com a inauguração do Orient Express Corinthia Yacht, que está programado para iniciar sua viagem inaugural em 6 de junho de 2026, partindo de Marselha. "Tem tudo a ver com viagens lentas."
"Pessoas que ganham muito dinheiro estão vivendo em alta velocidade. Desacelerar faz muito bem. Aproveitar o percurso, não apenas o destino. Viver o momento presente", conclui.
Sentir o universo

Sinta o universa de várias maneiras, recomenda Desurmont. Um dos fornecedores de destaque presentes no The Essence of Panama neste sentido é a Beckley Retreats, que oferece retiros na Jamaica onde utilizam psilocibina, o composto ativo encontrado em cogumelos, em um ambiente terapêutico e legal. A empresa se baseia em pesquisas científicas da Beckley Foundation e combina o uso de psicodélicos com práticas holísticas, como meditação, yoga e integração terapêutica.
"É um tipo de produto com alta procura, sobretudo pelos britânicos. Eu pretendo conhecer em breve. O desafio aqui é convencer o cliente de que obviamente é uma experiência altamente supervisionada, controlada, segura e terapêutica".
Com ou sem elementos psicoativos, a ideia central nesta tendência é obter uma imersão profunda nos elementos da natureza e em experiências transformadoras. "Trata-se de ir a lugares que nos permitem reconectar com a natureza, com as pessoas, com tribos. As pessoas não podem subestimar o aprendizado mútuo que acontece quando encontramos com populações remotas, que vivem em florestas, por exemplo."
Última chance de ver
Uma tendência urgente, assim pode ser considerado o sexto e último insight apontado por Desurmont, que explica a urgência por trás dessa busca: "Haverá terras que desaparecerão na água, ilhas que serão extintas, espécies estão desaparecendo por todos os problemas perturbadores pelos quais o mundo passa, como poluição, urbanização, devastação de florestas. Temos que proteger estes lugares, e o Turismo é uma das maneiras mais limpas e sustentáveis de fazê-lo", afirma o especialista.
Desta forma, os viajantes de luxo estão à procura desses lugares tanto pela urgência de vê-los quanto na esperança de que possam ajudar a preservá-los.
A PANROTAS viaja a convite da Serandipians, com seguro viagem Intermac.